João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
JULIAN ASSANGE foi esta semana expulso da embaixada do Equador em Londres onde se encontrava refugiado para fugir do julgamento e prisão, desde 2012. Fundador da WikiLeaks, esta é uma personagem que divide opiniões e que agora é bastante menos consensual que no momento que ele divulgou no seu portal documentos secretos do governo dos Estados Unidos, cedidos pela soldado Chelsea Manning. Isso acontecera há nove anos e os documentos por si divulgados mostravam que as intervenções militares dos Estados Unidos em vários palcos de guerra nem sempre se terão pautado pelas regras internacionais. E por essa altura Julian Assange até acabaria por ter a sua ação reconhecida internacionalmente no momento em que os principais jornais mundiais como o New York Times, Le Monde, The Guardian, Der Spiegel ou El Pais consideraram que era de todo o interesse público a publicação dos documentos recolhidos na plataforma WikiLeaks. Entretanto, Assange breve passaria de herói a vilão, acusado de agressão sexual na Suécia e de conluio com os russos e a equipa Trump ao publicar os e-mails pirateados ao Partido Democrático que não eram obviamente benéficos para a campanha eleitoral de Hillary Clinton. Há quem defenda que foi este o clic que fez alterar o sentido de voto de algum eleitorado americano e que acabaria na vitória de Trump. Por alguma razão, nessa altura o atual presidente dos Estados Unidos não poupava elogios: “Wikileaks, amo o Wikileaks”, disse ele em um comício na Pensilvânia. “O Wikileaks é como um tesouro escondido”, afirmou em Michigan. “Adoro ler o Wikileaks”, declarou em Ohio. Agora, confrontado pela Imprensa na sequência do pedido de extradição responde não saber nada sobre o Wikileaks. Entretanto, por várias razões, nomeadamente pela divulgação do nome dos cidadãos que, nos países intervencionados, colaboraram com os serviços secretos americanos, pondo assim em claro e evidente risco a vida deles os grandes jornais acabarariam por se distanciar. Assange, herói ou vilão?
ENQUANTO ESCREVEMOS ESTAS LINHAS, na minha frente, no ecrã da televisão, vejo em direto o horror da destruição de todo um símbolo da civilização milenar. A catedral de Notre-Dame não é só francesa, é de todos nós, da humanidade, que chegou até nós, vinda das profundezas do tempo, do século XII. Sobreviveu com poucos danos a várias guerras e revoluções, para agora a vermos em direto a ser devastada pelas chamas. Um dos maiores símbolos de Paris, mesmo maior que a torre Eiffel, é um símbolo da Europa dos cidadãos sejam eles católicos ou não. Ainda que me custe escrever aqui mais uma vez o nome de Trump, tenho de referir o nojo que deverão sentir os democratas americanos pela falta de senso do seu presidente que, em bitaite de café e especialista de coisa nenhuma, tweetou que havia que atacar o incêndio com meios aéreos a lançarem água sobre a catedral. Esteve bem o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, em apelar ainda no próprio dia do desastre a que os 27 países da comunidade contribuíssem com verbas para a reconstrução da catedral. Não que a França não pudesse suportar sozinha tal tarefa, mas para marcar, sublinhar, o valor da união europeia, porque Notre-Dame não é francesa, Notre-Dame é de toda a Europa.