1 de maio de 2019

Valter Lemos
E VIVA A ESPANHA!

Os espanhóis foram a votos. E a votação foi das maiores que até hoje teve lugar na democracia espanhola (abstenção abaixo dos 30%). O resultado, apesar disso, manteve a caldeirada em que se encontra a política espanhola e, em boa verdade, de diversos países europeus e da Europa no seu conjunto.
O tempo dos bipartidarismos parece ter acabado e a multiplicação de forças políticas com peso eleitoral é cada vez maior, tornando mais difícil a existência de soluções de governo e obrigando a que as mesmas assumam configurações estranhas e até inesperadas. O compromisso histórico entre a social-democracia e a democracia cristã, que foi o motor político da Europa desde a 2ª Guerra Mundial até ao século XXI, parece estar a esboroar-se. Os partidos do centro político tendem a perder votos e os partidos dos extremos tendem a crescer.
Os resultados de Espanha merecem atenção, pois, apesar de seguirem a tendência trazem coisas novas. Em primeiro lugar a vitória, com quase 30 %, do PSOE e de Pedro Sanchez. Este resultado acontece após um período difícil de governo do PSOE, o que lhe dá um significado especial. Sanchez, mostrou que é afinal a personagem mais fiável da política espanhola num tempo e num contexto confusos e conturbados. Por outro lado, o resultado do PSOE vem mostrar que a social democracia e o socialismo democráticos não estão afinal acabados e ultrapassados, apesar do vendaval que atravessou a Europa e varreu esses partidos dos governos da maioria dos países europeus. Nestas duas décadas do século XXI os governos desses países foram maioritariamente assegurados por partidos de direita de cariz conservador ou liberal e até nacionalistas e antieuropeus em dois ou três casos. O resultado de Espanha, seguindo-se ao de Portugal parece indicar que é possível que estejamos no início de uma alteração dessa situação.
Em segundo lugar emerge a grande derrota do PP, o partido que governou a Espanha em quase todo período decorrido do século XXI. Uma votação inferior a 17% deixou o PP em segundo lugar, mas com apenas mais 1% que o novo “Ciudadanos” e 2% que o “Podemos”. PP e “Ciudadanos” têm juntos o mesmo número de deputados do PSOE. É óbvio que grande parte dos votos do PP foram diretamente drenados para o “Ciudadanos”, o que coloca algumas questões sobre o interesse dessa divisão para a direita espanhola.
Em terceiro lugar merece nota o resultado do Vox, ligeiramente acima dos 10%, mas só com 24 deputados, o que é bem abaixo das sondagens, que apontavam para mais de trinta e cinco. Para um partido que concorre pela primeira vez, trata-se, ainda assim, de um resultado muito significativo e está na linha de expetativa que a comunicação social portuguesa, insistentemente, expressou nas últimas semanas. Na verdade, a comunicação social portuguesa tem vindo, em geral, a promover os resultados dos partidos que apela de “extrema-direita”, nas eleições nos diversos países. Também aconteceu com o Vox. O resultado deste, sendo significativo (é assim o 5º partido em Espanha), não é, no entanto, suficiente para uma maioria de direita, com os outros dois partidos referidos.
Como fica então a governação em Espanha?
A direita não tem maioria, mesmo com o Vox, pelo que não se coloca qualquer hipótese de governo da mesma. Assim será, naturalmente o PSOE a formar governo. Mas, não tendo maioria necessitará de acordos. Uma das possibilidades seria o “Ciudadanos” formando-se um governo ao centro. Tal hipótese parece estar afastada, dado que após a coligação entre o “Ciudadanos” e o Vox no governo regional da Andaluzia, o PSOE parece ter descartado acordos com aquele.
Assim parece inevitável o acordo com o “Podemos”, formando-se um governo à esquerda. Muitos questionam-se sobre a hipótese de entrada da “extrema-esquerda” no governo. Mas, afinal, a “extrema-direita” já entrou no governo da Andaluzia…
A situação de diversificação e multiplicação das forças políticas com representatividade parece, pois, tornar inevitável a entrada dos “extremos” políticos nas soluções governativas. Parece ser, aliás, a vontade do eleitorado ao dar algum fortalecimento a essas opções.
Muitos parecem ter medo dessa situação. Mas, afinal, não poderá ser essa a melhor forma de garantir o ajustamento desses partidos populistas às responsabilidades e procedimentos democráticos?
Mas, mesmo com o “Podemos”, O PSOE não tem maioria parlamentar. Precisará, por isso, do apoio dos deputados regionalistas e eventualmente independentistas. Isso coloca problemas e dúvidas. A direita abanou muito o espantalho das eventuais cedências ao independentismo na campanha eleitoral, mas isso não impediu a vitória do PSOE. Sanchez poderá ter problemas com tais negociações, mas tal também poderá constituir uma oportunidade para conseguir compromissos razoáveis por parte dos independentistas e serenar um pouco mais o ambiente político.
Seja como for, estas eleições mostraram uma grande vitalidade da democracia espanhola e os seus resultados são muito importantes não só para Espanha, mas também para a Europa, o europeísmo e ainda para a social democracia
E Viva a Espanha!

01/05/2019
 

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