Maria de Lurdes Gouveia Barata
O VÍRUS QUE REVIRA 2020…
NOTA PRÉVIA: A elaboração deste artigo concretizou-se antes das últimas medidas tomadas pelo Governo, mais propriamente o encerramento das escolas. Decerto, o assunto VISITAS DE ESTUDO, de que falo, estará assim resolvido. Todavia, penso que a reflexão que faço no artigo não deixa de ter pertinência.
Aí está o vírus, que começou em 2019, mas atormenta 2020 e, quase passado o primeiro trimestre do novo ano, não se vislumbra a esperança de um final rápido. No início dava para conversa de deitar fora, até alguém me disse, ao ouvir-me falar do corona vírus, como é que eu pronunciava assim, à inglesa, sendo tão defensora das palavras portuguesas quando os estrangeirismos eram desnecessários… Na verdade, seria vírus corona… Todavia, passou a correr como palavra única, não corona vírus, mas coronavírus. O uso tomou força, houve depois o novo baptismo, o oficial: COVID-19. Coronavírus continua a ser a palavra propagada, integrando a língua, trazendo em si a carga de ameaça, desencadeando receios, interrogações e preocupação constante.
Jornais e revistas trazem até nós as narrativas de grandes epidemias na história da humanidade para compararmos com esta crise deste vírus. A DGS divulga os cuidados a ter, as medidas a tomar, o que cada um pode fazer para evitar o pior. Ainda há pouco, hoje, dia 7 de Março, que regista 25 infectados em Portugal, o Ministério da Saúde deu uma conferência de imprensa para fazer um ponto da situação e anunciar medidas novas como o fecho de algumas escolas no norte do país e a proibição de visitas a lares de idosos, prisões e hospitais.
E fiquei à espera de mais medidas! Causa-me alguma perplexidade que, preventivamente, as VISITAS DE ESTUDO previstas pelas escolas a países onde o vírus grassa não sejam proibidas. É um assunto que me incomoda – e incomoda provavelmente outros cidadãos – pois o Ministério da Educação, em colaboração com a DGS – ou vice-versa – deveria impedir essas visitas de estudo neste período. Sabe-se que prevenir é melhor que remediar e sei de casos que trazem problemas aos pais que querem impedir os filhos de fazerem essas viagens e depois vem o dilema de os meus colegas também vão e o professor ou professora diz que vai correr tudo bem… É isto que me espanta, tal como me espanta que as Associações de Pais não se movimentem para um contra. Porém, o Ministério da Educação tem responsabilidades!
No entanto, começo a pensar que a falta de informação é mais poderosa que o perigo do vírus. Há dias, uma familiar minha telefonou-me de Lisboa e disse-me: «Sabes o que corre por aí? Que alguns lançaram este vírus para acabar com a velhada… E não me admirava!» (A pessoa tem já uma certa idade…). Respondi com uma gargalhada e disse-lhe que era uma idiotice… A revista Visão reportava outras falsas notícias que tinham corrido, como «o vírus foi criado pelos chineses»; «foram os americanos que lançaram o coronavírus na China para abalar o seu poder económico» e outras que apontam mezinhas de cura, como «besuntar o corpo com lixívia elimina o vírus», exemplos apenas. Também corre na boca de alguns que isto não passa de uma gripe mais forte e não se justifica tanto falatório, talvez uma das causas para os pais não serem mais severos com a proibição de os filhos se deslocarem nas tais visitas de estudo. O pânico prejudica, mas um pouco de receio faz bem nestas situações.
A liberdade individual tem limites perante o perigo público. Ninguém tem o direito de fazer o que lhe apetece (como, por exemplo, negar a quarentena que não está prevista como obrigatória na lei, nestes casos), se fazer o que lhe apetece implicar o prejuízo de dezenas de outros, ou centenas ou mesmo milhares…
Sei de uma escola (não em Castelo Branco) que realizou com uma turma de 9º ano uma visita de estudo a Roma, não havendo ainda casos de infectados em Portugal. Foram. No regresso, alunos e professores ficaram na tal quarentena dos catorze dias. No entanto, no regresso da viagem particular a Itália da professora da Amadora, esta telefonou para a Saúde 24 e disseram-lhe que fosse trabalhar. Deu o mau resultado que todos conhecem. Sei de casos semelhantes, com consulta semelhante e resposta semelhante que, por sorte, correram bem…
Mas não se pode entregar ao acaso a decisão sobre medidas preventivas contra este vírus que revira as vidas dos humanos, um vírus que é uma raposa Dona Matreira (lembro um conto da minha infância…) que espreita o seu compadre lobo para lhe pregar partidas, que não é o lobo neste caso, mas o homem, que, às vezes, por culpa sua e desatenção lhe cai nas armadilhas…