Edição nº 1631 - 25 de março de 2020

Fernando Raposo
NADA FICARÁ COMO DANTES A PROPÓSITO DO CORONAVÍRUS

O sacana do bicharoco apanhou-nos, a todos, desprevenidos.
Ninguém se atravesse no seu caminho, porque ele não reconhece raças ou credos, ricos ou pobres, bons, maus ou assim, assim…
Por onde passa, o cenário é devastador.
Do mundo de lá até ao mundo de cá, os mortos já são mais de uma dezena de milhar e o número de infectados pelo bicharoco já vai muito para além de três centenas de milhar. E o pior ainda está para vir, dizem os entendidos.
Diz-se ainda que o sacana se fez à vida do lado de lá da grande muralha da China, mais precisamente no mercado de Wuhan, na província de Hubei, onde as cobras se misturam com os morcegos e terá sido um destes, entre toda a bicharada, que passou o bicharoco ao homem.
Os Chineses dizem agora, como que a “sacudir a água do capote”, que foram os americanos que trouxeram o vírus para Wuhan, aquando da participação da sua delegação nos jogos mundiais militares, que decorreram, naquela cidade, em outubro passado.
Seja como for, o que importa é que o maldito bicharoco se espalhou por todo o lado, transformando o mundo num pandemónio.
Nós, aqui na Europa, não estávamos preparados para uma coisa destas. Com toda a gente fechada em casa, com as escolas e fábricas encerradas, a economia paralisada…
Apenas médicos, enfermeiros, técnicos de saúde, pessoal auxiliar e poucos mais, na linha da frente de combate, numa guerra implacável em que nunca se sabe de onde ataca o inimigo.
Foi preciso uma tragédia destas para reconhecermos o quão importante é a existência de um Serviço Nacional de Saúde e o papel ímpar e inestimável dos seus servidores.
Que importam os canhões, bazucas ou outro tipo de metralha, se um pequeno bicharoco nos manda, como diz o povo, “desta para melhor”. Apenas os americanos acreditam que ainda é possível dizimá-lo a tiros de espingarda, como Viriato, apetrechado de calhaus, correu com os romanos, da Lusitânia, à pedrada.
As consequências desta tragédia são ainda difíceis de prever, mas seguramente elas serão bem mais devastadoras e nefastas do que aquelas que julgávamos estar já a ultrapassar e que resultaram da crise financeira de 2008, provocada pela falência do Lehman Brothers, banco norte-americano.
Já nem me lembrava disto!
Se a crise provocada pelos americanos veio expor a fragilidade do sistema financeiro, sobretudo da Europa, a crise que agora teve origem na China, lá nos confins do mundo, veio pôr em causa a vida, a segurança, o conforto e o bem-estar das populações do ocidente, em particular da Europa.
Tanto uma crise, como a outra, deitam por terra os fundamentos dos mais acérrimos defensores da globalização económica, que outros propósitos não têm senão o da obtenção de maior lucro.
Nunca fui um entusiasta da globalização do mercado económico, pela simples razão de que em muitos países, sobretudo da Ásia, não são assegurados, aos trabalhadores, os mesmos direitos que são garantidos aos europeus. Essa mão de obra desprotegida, sem direitos, levou a que muitas empresas se deslocalizassem para a Ásia, em particular para a China, com o único fito de tirarem maior vantagem económica.
Sempre interpretei como hipócrita esta postura dos líderes europeus, por autorizarem a deslocalização de sectores estratégicos da nossa economia para aquele continente, promovendo e fomentando ali uma nova escravatura. E nós, europeus, temos sido muito complacentes, e até cobardes, ao consumirmos produtos mais baratos, pois produzidos em condições que aqui não aceitaríamos.
Esta catástrofe tem vindo a demonstrar a fragilidade dos europeus, que não têm hoje capacidade para produzir, internamente, produtos básicos, como, por exemplo, simples máscaras de protecção. Os exemplos são inúmeros.
Ficámos todos reféns da China.
Ninguém sabe ao certo como irá terminar esta catástrofe, mas sabemos, pelo menos, que nada ficará como dantes.
A Europa, se quiser ter futuro, terá de reforçar os laços de solidariedade entre os seus, redesenhar um sistema económico que assente nas suas potencialidades endógenas e na valorização dos seus cidadãos, que lhe permita satisfazer as necessidade internas e libertar-se, tanto quanto possível, de dependências e condicionamentos externos.

25/03/2020
 

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