NOS BASTIDORES DO ATLETISMO
Corrida pela Vida
Numa bela tarde de domingo resolvi ligar o computador e ver se tinha recebido algum email importante. Entre notícias e promoções, estava um cujo assunto me chamou a atenção: dizia “Convite – Corrida pela Vida”. Abri e vi que a organização convidava-me para participar, como atleta e como jornalista, numa prova de atletismo designada Corrida pela Vida, que se iria realizar no fim-de-semana seguinte. Em anexo, vinha o meu dorsal, que devia imprimir e levá-lo no dia da prova, e o regulamento, que resolvi abrir e analisar. De entre os pontos normais de um regulamento de uma prova de atletismo, houve três que não achei normais. O escalão era apenas um, incluindo homens e mulheres, a distância não estava definida dizendo que a duração da prova dependia dos participantes e que estavam inscritos um pouco mais de 10 milhões de participantes (o equivalente aos habitantes de Portugal).
Durante a semana seguinte resolvi fazer umas corridas. No sábado lá acordei cedo para ir participar e fazer a cobertura da Corrida pela Vida. Um furo fez-me chegar em cima da hora. Faltavam 10 minutos para a hora prevista de início, quando cheguei ao local de partida. E logo reparei que esta corrida não era igual às outras. Todos os atletas estavam equipados com uma camisola vermelha, amarela e verde. Os juízes estavam também eles equipados. O João Coelho, o João Vaz e o Luís Rechena também estavam preparados para fazer a prova. Perguntei ao Nuno Almeida quem iria dar a partida e ele disse-me que era automática. Perguntei ao Guilhermino e ao Abel Cardoso quem iria fazer as chegadas e a cronometragem. Responderam-me que eram os pórticos que tinham sido instalados no local de chegada. Por fim, cheguei ao pé da Beta a quem perguntei quem fazia o secretariado. Disse-me que era o programa que lia os chips e os colocava logo na internet. Quando falava com a Beta reparei que o José Carlos Diamantino, o Artur Jorge, o Miguel Malaca, o José Manuel Alves, o Alexandre Lobo e o Luís Paixão iam participar e fazer a cobertura da prova ao mesmo tempo. Dou dois passos em frente e encontro o Rui Sargento. Hoje não estava como animador, mas como atleta. E estava acompanhado da Fernanda Camisão, do Hugo Dinis, da Carla Costa, do Rui Costa, do Fábio Barata, do Bruno Mangana e de mais algumas pessoas que costumam estar a dar apoio às equipas e que hoje também iam correr. Mais ao lado, o João Serra, o José Ribeiro e outros organizadores de provas fazem os últimos exercícios de aquecimento Avanço para chegar mais à frente e vejo um grupo de atletas que por baixo do seu equipamento tinham o seu fato de trabalho. Vejo a Natércia Silvestre, o Rui Filipe e mais alguns atletas vestidos de médicos. Ao seu lado, a Elisa Vaz, o André Tiago, a Ana Ceriaco, a Nelma Afonso e mais alguns colegas vestidos de enfermeiros. O Fábio Afonso, o João Oliveira e outros bombeiros também resolveram participar com o seu fato de trabalho. Ao seu lado a Vanessa Neves, o Dinis Oliveira, o Sérgio Salvado e outos policias e GNRs também estão equipados com a sua farda.
E já na frente da prova, entre os muitos atletas consigo ver o Alexandre Venâncio, o Carlos Sanches, o Rui Pereira, o Nuno Gamboa, a Dina Seguro, a Lisdália Nunes, a Florência Basílio, a Catarina Palmeiro, o Pedro Lopes, o Amaro Teixeira, o Romeu Afonso, o Bruno Paixão, o Paulo Gomes, o Norberto Nunes e o Francisco Rebelo. E, mesmo na frente, um atleta que não conheço. Tem o dorsal número 19 e veste um equipamento diferente de todos os outros atletas. Dá saltos e mais saltos, parece que quer gastar toda a energia ainda antes da prova começar. Pergunto-lhe como se chama, visto que não o conheço e ele diz chamar-se Covid.
O cronómetro que fazia a contagem decrescente entra no último minuto. A partida é dada e o Covid assume a frente da corrida. Perseguem-no o Alexandre Venâncio, o Carlos Sanches, o Nuno Gamboa, o Rui Pereira, o Bruno Paixão e o Paulo Gomes. Os quilómetros vão passando e a frente da prova continua entregue ao Covid. Mais atrás, vem o grupo perseguidor, onde os vários atletas que o constituem, vão alternado entre si a frente do grupo. Com 20 quilómetros de prova, o Covid parece que correu apenas 100 metros, ao contrário dos elementos do grupo perseguidor, que já não sabem que tática devem utilizar para apanhar o Covid. Ao quilómetro 21 chega ao pé do grupo perseguidor o Fernando Matos a dizer que tinha visto na internet que o Covid participou numa prova na China e que foi derrotado pela tática do “Fiquem em Casa”. Esta tática consiste em todos os participantes irem para as suas casas, ficando apenas em prova aqueles que trazem o fato de trabalho por baixo do equipamento. Como já não sabiam o que haviam de fazer, resolveram arriscar. O Luís Matos pegou num megafone e falou com todos os atletas em prova e explicou a tática a utilizar. Todos foram para casa menos os médicos, enfermeiros, bombeiros, policias, GNRs, entre outros. E com o passar dos quilómetros, a tática começava a resultar. O Covid ia perdendo forças e ia começando a abrandar o seu ritmo. Ao quilómetro 35 o vírus começa a parar até que de um momento para o outro cai para o chão já não se conseguindo levantar mais. É nessa altura que todos saem de casa e se juntam aos atletas que ficaram em prova e que andaram na linha da frente. E de um momento para o outro aparece o pórtico da meta. Todos juntos, de mão dadas, cruzam a linha de chegada. Todos foram os vencedores, logo todos foram ao lugar mais alto do pódio receber o melhor prémio que podemos ganhar…a nossa vida.
Enquanto não chega o quilómetro 35 da nossa corrida, mantenham-se em casa. Nas próximas semanas iremos trazer aqui o que está a sei feito por alguns destes atletas que estavam nesta corrida.
Manuel Geraldes