Edição nº 1637 - 6 de maio de 2020

Alfredo da Silva Correia
ESCASSEZ PROGRESSIVA DE ÁGUA - ADAPTEMO-NOS

Em artigos anteriores tratei o problema das alterações do clima, tendo concluído que hoje acredito que as mesmas se devem ao modo de vida do homem, com especial realce para o processo da globalização que exige uma crescente mobilidade de bens e pessoas. Sobre este aspecto sem dúvida que o nível de vida que hoje alcançámos se deve a este processo ao produzirem-se os bens que consumimos nos países mais aptos para o fazer, o que depois implica a mobilidade dos mesmos para as regiões de consumo. Há quem acredite que o automóvel e as fábricas são os únicos poluidores, embora hoje comece a haver consciência de que também os aviões e os próprios navios poluem em alto grau, o que acontece pela enorme frequência em que os céus e os mares são utilizados com tais meios de mobilidade.
Desta forma parece-me evidente que foi esta crescente mobilidade que está a contribuir fortemente para afectar a natureza e o clima. Sendo assim deverá a humanidade interrogar-se se quer continuar no processo em curso de autodestruição, ou se tem a coragem suficiente para inverter o processo e em vez de continuar com o reforço da globalização, passar a um processo progressivo de procurar consumir o que se produz próximo, reduzindo a mobilidade.
Sem dúvida que a opção por este segundo modelo, apenas pode ser prosseguido com o objectivo de se evitar a autodestruição, pois sem dúvida que não deixaria de ter enormes custos na qualidade de vida da humanidade. Esta desenvolveu-se, concentrando as populações em grandes metrópoles, cidades com mais de 10 milhões de habitantes, e com a criação de grandes conglomerados empresariais preparados para abastecerem, com determinados produtos, todo o nosso mundo. A inversão do processo de globalização para um em que se procura consumir, o que se produz próximo, não deixaria de conduzir a uma distribuição geográfica das populações menos concentrada e atacando em menor grau a natureza, como não deixaria de inverter o processo de criação de grandes conglomerados empresariais para modelos de desenvolvimento de menor dimensão.
Poderemos interrogar-nos se tal processo é viável e interessa à humanidade, ao que respondo que não tenho dúvidas que o mesmo criará dificuldades enormes às populações, pelo que tal inversão só se justifica se estivermos mesmo conscientes que o processo da globalização, se nada for feito que minimize as consequências do mesmo, nos está a conduzir à autodestruição. Se me perguntarem se eu acredito que tal inversão é possível responderei que penso que tal não o é, pois estou até convicto que o homem preferirá autodestruir-se, a sofrer as consequências de tal mudança. É a minha sensibilidade mas seria bom que tal problemática seja devidamente equacionada, o que penso está muito longe de acontecer, pelo menos com a necessária clarividência, embora hoje com o processo do COVD-19, se esteja a instalar uma cultura em que esta matéria passou a estar muito mais presente, podendo dar algum contributo, para a inversão da tendência em curso.
Acresce que a redução progressiva da disponibilidade de água, em alguns locais do mundo já é uma lamentável realidade, pelo que o homem vai mesmo ter que fazer um enorme esforço de adaptação. De facto não será só a consequência de se não conseguir produzir produtos alimentares, pelo menos na terra, na quantidade e qualidade necessárias, mas também o próprio consumo humano vai ter que se adaptar a uma nova realidade de escassez. Assim, hábitos como o tomar banho e mudar de roupa todos os dias pode ter que passar para maiores intervalos, como acontecia há 50 anos. È uma matéria que não é tratada mas que acabará por sê-lo, como começa já hoje a ser o cultivo intensivo de certas plantas muito consumidoras de água. No nosso país constatamos que no norte chove enquanto no sul a seca é preocupante, razão pela qual me interrogo se não deveria ser construído de norte a sul um canal de água que abastecesse quando necessário os rios e as barragens do sul.
Enfim, bem gostaria que este problema não passasse de uma miragem, mas hoje já tenho tido quem me faça sentir que se quiséssemos voltar a produzir cereais no nosso país ao nível em que acontecia há 50, 60 anos não o conseguiríamos, por as terras não terem a humidade necessária. São problemas que a muitos nada dizem, mas que sinto hoje já representam alterações estruturais, embora reconheça que este ano até foi chovendo, ainda que não o suficiente para abastecer as reservas, quer de barragens e poços, quer em termos de reforço das nascentes.
Enfim são meras reflexões sobre problemas actuais da humanidade que, um dia, temo se transformem em realidades bem duras. Espero que não.

06/05/2020
 

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