Edição nº 1637 - 6 de maio de 2020

Valter Lemos
POLÍTICA DA IGNORÂNCIA OU DO CONHECIMENTO?

A pandemia de Covid 19 veio introduzir uma profunda rotura no estilo de vida da esmagadora maioria dos países em todo o mundo. Trata-se de uma situação sanitária, mas com profundas consequências em todas as dimensões sociais, económicas e políticas.
A dimensão económica vai atingir níveis de crise superiores aos do início da década, ou seja, dos mais elevados dos últimos cem anos, ainda que haja esperança que a retoma ocorra com maior rapidez do que nas crises anteriores.
Mas as crises são o teste do algodão em política. A consistência dos políticos, designadamente dos governantes, fica bem à vista em tempos de crise e o corona vírus mostrou-se especialmente critico para os demagogos e os populistas, porque as pessoas perceberam rapidamente que não era com discursos vazios ou com crendices que o problema podia ser enfrentado. Perceberam que a questão era séria e que exigia que os políticos se guiassem pela sensatez e principalmente pelo conhecimento racional, científico e seguro.
A ciência política mostra-nos que há duas fontes principais para as políticas públicas: a crença e o conhecimento. Os políticos tomam decisões com base em crenças ou com base no conhecimento disponível. Desta vez as pessoas parecem ter percebido, pelo menos maioritariamente, que a segunda hipótese é provavelmente mais segura para si próprias e para os outros.
E a evolução da situação parece comprovar isso. As lideranças políticas populistas mostraram bem a sua impreparação e a infelizmente correspondente irresponsabilidade.
Bolsonaro e Trump são gritantes exemplos da catástrofe política que constituem as lideranças políticas populistas. A arrogância da ignorância e da estupidez em todo o seu fulgor.
As consequências da sua inqualificável conduta política ainda estão por entender na sua totalidade. Mas quantas pessoas foram e serão contaminadas e quantas até terão morrido ou virão a morrer, em consequência da influência do discurso político e das decisões daquelas lideranças?
Além da ignorância, da boçalidade e da imaturidade manifestas em grande parte das suas intervenções, ressalta ainda uma chocante falta de respeito e consideração pela vida e pela condição humana, que vai além do populismo e já se confunde com doutrinas autoritárias e repressivas.
Curiosa é a situação de Boris Jonhson e do Reino Unido, que tendo ensaiado uma atitude semelhante à de Trump, arrepiaram caminho drasticamente. Terá sido pela contaminação do próprio Boris Jonhson ou pela maior solidez das instituições e da cultura britânica?
A crise do COVID 19 vai deixar muitas lições, do ponto de vista sanitário e médico, do ponto de vista económico e social, mas, esperemos que também do ponto de vista político. Esperemos que, após a pandemia, se tenha percebido que o destino dos países e das pessoas são demasiado importantes para serem entregues à gestão da ignorância, da crendice, da fanfarronice, da imaturidade política.
Essa pode vir a ser uma das poucas boas consequências desta tão malévola situação. Bem como a intensificação da cooperação científica e técnica que, estando a ocorrer entre laboratórios e universidades de muitos e diversos países, poderá permitir avanços rápidos na procura de soluções médicas para esta situação, mas, também para muitas outras no futuro.
E poderá haver ainda uma outra consequência positiva que tem vindo a ser referida. A contribuição para a diminuição da poluição e das alterações climáticas. A situação tem vindo a mostrar, que, afinal, podemos ser capazes de uma intervenção eficiente em tão decisivo combate para a espécie humana. Para isso é preciso, mais uma vez, em primeiro lugar, basear a política no conhecimento disponível e não na ignorância ou em crendices e tomar decisões sensatas, seguras e consistentes.
Não são as crenças sobre as superioridades culturais ou ideológicas ou os nacionalismos ou os discursos fanfarrões, demagógicos e populistas que nos conduzem à resolução dos problemas. São as decisões sensatas baseadas no melhor conhecimento possível que melhoram o mundo e a vida das pessoas.

06/05/2020
 

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