João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
Afinal o tiro de bazuca da Comunidade Europeia arrisca-se a ser um tiro de pólvora seca. Depois de um raio de luz saído do acordo franco-alemão que incluía uma verba de 500 mil milhões de euros para ser distribuído sob a forma de subsídios, sem vir portanto a engrossar a conta das dívidas públicas dos países financeiramente mais fragilizados e necessitados, sabendo-se bem que se tal viesse a acontecer, se as ajudas fossem sob a forma de empréstimo, as agências de notação financeira iriam fazer subir em flecha os juros de empréstimo de cada vez que Portugal fosse aos mercados. Pois é isso mesmo que quer o grupo dos quatro países ditos frugais, Holanda, Áustria, Suécia e Dinamarca. Rejeitam o acordo conseguido entre Merkel e Macron, rejeitam qualquer mutualização da dívida, apontam a crise vivida pelos países do sul em resultado do Covid-19 como exemplo de má gestão, na base daquela tirada famosa do antecessor de Mário Centeno na presidência do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, que os povos do sul estavam mal porque gastam em copos e mulheres. E se não fosse pouco, ainda veem com as sacrossantas reformas estruturais e correlativa austeridade que os sortudos países beneficiários do empréstimo, a pagar com juros, repito com juros, teriam de promover para que fiquem melhor preparados para a próxima crise. Acham que isto já é suficiente? Desenganem-se, porque estes frugais calvinistas ainda querem que a Comissão fiscalize e avalie no final a aplicação das verbas recebidas por empréstimo, porque deste países vagabundos há que desconfiar… É preciso ter lata, vindo de um país como a Holanda que é uma espécie de offshore no centro da Europa, sem pudor em receber os lucros das empresas a laborar em Portugal mas com sede naquele paraíso fiscal. Por isso, aquela proposta de Merkel e Macron muito dificilmente passará, provavelmente vai-se chegar a um acordo que será resultado de algumas cedências, misturando empréstimos com subsídios. E António Costa já conta com pelos menos dois meses para se chegar a um consenso e a tomada de decisões. Muito tempo para uma economia em sufoco…