Alfredo da Silva Correia
ALTERAÇÃO, TAMBÉM QUALITATIVA, DA POPULAÇÃO (ADAPTEMO-NOS)
Referia no meu artigo anterior que a enorme queda da população a que o nosso país vai estar sujeito nas próximas décadas, ou nos vai obrigar a reorganizarmo-nos administrativamente, considerando essa mesma enorme redução, ou acreditamos que a mesma vai ser colmatada com a imigração, modelos que oferecem, cada um deles, as suas próprias consequências.
Se a solução for a primeira, ou seja a da redução progressiva, então os nossos governantes, acabarão por ser obrigados a tomar fortes e duras medidas de adaptação a novas realidades. Efectivamente o Estado terá que ser reorganizado, a fim de que adapte as suas estruturas à dimensão da população, pois esta não vai conseguir produzir e pagar impostos para que o Estado mantenha a sua dimensão atual ou, se a mantiver, ela não terá a produção que justifique o custo que com ela o povo suporta, o que terá consequências nefastas no nosso nível de vida.
Acontece que é sempre uma tarefa bem mais complicada reduzir estruturas do que criá-las, como aconteceu no nosso passado, durante o último século. A eliminação de serviços gera sempre um mau estar para quem vive deles, provocando muitas vezes até reacções violentas, pelo que tenho muitas dúvidas que tal adequação a novas realidades demográficas possa acontecer com o actual sistema político.
Devemos interrogar-nos sobre quando tal terá mesmo que acontecer, ao que respondo que não tardará muitos anos, pois durante pelo menos os últimos dois anos a redução da população portuguesa é já uma realidade, o que deveria até levar os governantes actuais a ter muito cuidado com a criação ou mesmo reforço de estruturas de funcionamento estatais. Aliás, já durante as últimas décadas se constatou que muitas escolas por esse país fora ficaram inactivas, ou foram transformadas em locais de apoio à velhice, pura e simplesmente por já não haver crianças que, as ocupem, o que não deixa de ter o seu significado.
Acontece que a redução das populações vai tornar-se mais acentuada, a partir da próxima década, como resultado de uma enorme queda, há cerca de 20 anos, da taxa de natalidade, facto que vai conduzir inclusivamente a que tenham que ser tomadas medidas para garantir a sustentabilidade da Segurança Social.
A outra forma de resolver o problema da queda abrupta da quantidade da população é acreditar que Portugal se tornou num país sedutor para os povos emergentes e, neste caso, daqui a umas décadas, no nosso país, estarão a viver povos de várias origens representando, no total da população a viver em Portugal, uma percentagem progressivamente a crescer ao ponto da governação do país poder acabar por ser assumida por pessoas de outras origens. Se governarem bem não virá mal ao mundo, mas também poderá acontecer que governem mal, como já hoje acontece em alguns dos países de origem. De certeza porém que esta solução representa uma alteração qualitativa da população residente, sendo muito difícil avaliar se para melhor se para pior, dependendo tal da qualidade dos povos que procurem o nosso país para viver.
De facto apesar de na Europa haver quem se queixe muito da governação dos respectivos países, a verdade é que esta, apesar de tudo, ainda tem sido um paraíso quando comparada com a maior parte de países de outros continentes, como a América do Sul, África e mesmo certa Ásia. Tenho um amigo estrangeiro que conhece bem o mundo em geral e que me afirma muitas vezes que, apesar de nos queixarmos, a Europa ainda é um paraíso, quando comparado com outras regiões do globo.
Enfim, pode vir a ser um quadro que não augura, de modo algum, um futuro próspero para o nosso país e mesmo para a Europa, que julgo deveria ser equacionado pelos nossos políticos, afim, de que ou tentemos minimizar as consequências de tal quadro, ou então para que nos venhamos adaptando a novas e bem mais duras realidades.
Por exemplo, num quadro destes é impensável manter a divisão administrativa atual do país e muito menos que na mesma sejam criadas regiões, aumentando o nº de políticos, já que o que me parece lógico é que se reduza fortemente até o nº de concelhos, incorporando muitos deles no vizinho mais adequado e dando-lhes dimensão para poderem assumir novas funções administrativas, sempre com o objetivo de adequar as estruturas estatais à dimensão da população.
Há quem defenda que ainda bem que a população reduz, pois o planeta não aguenta com tanto crescimento da população, facto que também considero. Não obstante, preparemo-nos pois pelo menos no nosso país verificar-se-ão profundas alterações na matéria em apreço, que exigirão fortes sacrifícios. São reflexões e leituras muito gerais, pelo que poderá haver uma inversão da taxa de natalidade que minimize o problema, o que não acredito. Quem cá estiver daqui a 20 anos que testemunhe se esta análise era ou não lógica...