Edição nº 1644 - 24 de junho de 2020

Carlos Semedo
DAS LIMITAÇÕES

No início do mês de Junho teve lugar um programa da série Prós e Contras, sobre tudo e nada que se move debaixo do chapéu Cultura. É muito difícil sentirmos satisfação e alguma plenitude quando o modelo é frágil. A quase especialista em tudo, moderadora, é fraca em quase todos os temas e neste é o ainda mais. Os convidados, cada um tem a sua história de vida, mais ou menos experiência na sua área, mas quando se evidencia demasiado aquela que é a razão de ser de estarem ali, falta o distanciamento, aquele silêncio entre o que já fiz e o que o país poderá precisar. Tenho um grande, mesmo muito grande apreço pelo trabalho que algumas pessoas que ali estiveram, desenvolvem e desenvolveram ao longo de, em muitos dos casos, décadas. A dificuldade que estes convidados sentiram, muitos outros sentiriam e o resultado seria o mesmo. É por isso que este modelo nunca servirá para grande coisa. Ter a Ministra da Cultura a afirmar que o interlocutor nunca será o programador(a), mas sim o Município, no caso dos Teatros (ou da Rede) é uma banalidade e uma prova de ignorância (ou desconsideração) sobre, por exemplo, como têm sido validadas as propostas das diversas entidades artísticas, nos concursos da DGArtes. Para quem não sabe, são os programadores que passam Declarações de compromisso relativas à maioria dos espectáculos ou co produções, as quais, depois, são parte importante do processo de decisão dos júris. Assistir sem ninguém pestanejar, naquela caixinha, à afirmação de um dos convidados, de que os programadores são uns limitadores, é uma prova de que a discussão não pode ser consequente. O autor desta afirmação nem sequer foi confrontado com um espelho. Disse, passou e siga em frente porque as palavras não têm substância, evaporam-se. Outra coisa assustadora foi a redução da conversa a meia mão fechada de artes, o que retira, desde logo, qualquer credibilidade à coisa. Onde estiveram a dança, a literatura, as artes plásticas ou o cinema? Se o acento eram os Teatros e Cine-Teatros, mesmo que o pensamento fosse confinado, faltaria abrangência. Hoje, esses espaços querem-se amplos, largos de ideias, pontes, sementes de cruzamentos e contaminações. Mas nada, ficamo-nos tristemente por uma realidade diminuída em vez de mirante de horizontes largos.
Mas acho que já chega sobre este programa. Sinto que precisamos de aprofundar o diálogo tal como foi iniciado neste período da pandemia. Os programadores, os técnicos, os artistas, os Municípios, o Governo, os mediadores, todos devemos falar mais, francamente, conhecermo-nos melhor, aprender a respeitar o trabalho dos outros e pensar que a competição, seja porque for, não é o caminho único para o desenvolvimento dos projectos que cada um pensa para transformar o campo artístico num permanente objecto interrogativo sobre a vida e o Mundo.

24/06/2020
 

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