Edição nº 1649 - 29 de julho de 2020

Alfredo da Silva Correia
O NOSSO ENORME ENDIVIDAMENTO (PREPAREMO-NOS)

É possível encontrarmos inúmeras causas para termos caído numa situação de enorme endividamento, perfeitamente desequilibrado, hoje em forte agravamento com o surgimento imprevisto de uma pandemia. Obviamente que o mesmo resulta de uma postura politica pois, como todos sabemos, qualquer organização, seja ela um Estado, uma empresa, ou mesmo uma família, os respectivos dirigentes podem introduzir na mesma uma cultura de equilíbrio e mesmo de alguma poupança para fazer face a imprevistos, ou se pode optar por uma cultura de gastar acima do que se produz, ou se ganha, o que tem consequências negativas enormes, quando surgem imprevistos.
No nosso caso com o actual sistema político sem dúvida que a opção foi a de se viver muito acima do que se produz, pelo que fomos conduzidos para um enorme e desequilibrado endividamento, o que não deixará de ter consequências bem duras no nosso futuro sobretudo se, por qualquer razão, deixarmos de contar com a Europa, o que hoje, infelizmente, tem que ser visto como uma possibilidade. De fato todos os povos que a constituem têm problemas e quando assim é corre-se o risco de se instalar a cultura de cada um que se governe, o que seria muito lamentável.
Ao fazer esta afirmação de forma alguma quero referir que sou contra qualquer endividamento. Antes pelo contrário, defendo-o desde que seja equilibrado e se destine a investimentos com efeito multiplicador na respectiva economia, porque se for no sentido do mero consumo, um dia a verdade vem ao de cima, não sendo nada cómoda.
Gerir ou governar não é nada fácil. De facto o resultado da qualidade da gestão depende sempre da cultura que os dirigentes transmitem aos geridos. Se for uma cultura realista e que considere todos os aspectos das envolventes socioeconómicas do que está a ser gerido, então conseguiremos bons resultados. Se pelo contrário de cima vier uma cultura de facilidades os resultados não são bons e um dia os geridos acabarão por ter que pagar as suas consequências.
Acontece que o nosso enorme endividamento, só se pode dever à injecção pelos nossos governantes, das últimas décadas, de uma cultura de facilidades, do que não pode deixar de resultar não só que se viva acima das reais possibilidades do povo, mas também da realização de investimentos que não são reintegrados num prazo aceitável, o que exige sempre novos financiamentos.
Sobre este aspecto, não posso deixar de me recordar de, ao longo da minha vida de gestor, ter recebido inúmeras propostas de investimento que eram recusadas, quando se fazia a avaliação da respectiva taxa de utilização esperada, sendo sempre recusados quando a mesma fosse baixa, o que não tem acontecido, com a justeza necessária, com a governação do nosso povo, durante as últimas décadas.
O nosso país tem sido gerido com um sistema político que ganha as eleições quem mais promete ao povo e sendo tantos frequentemente a prometer, também porque há eleições em curtos intervalos, então tem-se gerado no povo, uma cultura de facilidades que conduz a decisões aberrantes, das quais tem resultado o enorme endividamento referido. Efectivamente já se fala que o endividamento do nosso povo já ultrapassou os 750.000 milhões de euros, quando o nosso PIB anual, com a pandemia, vai cair para os cerca de 170.000 milhões, o que revela bem as nossas enormes dificuldades, na matéria em apreço.
Em 2008 vivemos, como todos sabemos, um problema grave por estarmos à beira de não haver dinheiro para cumprir com compromissos assumidos, incluindo o pagamento de salários e mesmo de algumas reformas e tal só pode ter acontecido por más decisões na governação passada, resultante da qualidade do sistema político que nos tem governado. Salvou-nos a troika ao emprestar-nos 78 mil milhões de euros e a obrigar-nos a medidas como, por exemplo, a venda de empresas que deveriam sempre ser portuguesas e algumas até estatais. Não é mais do que a confirmação de que gerir mal trás sempre consequências e se insistirmos na má gestão sofreremos consequências imprevisíveis, sobretudo quando surgem imprevistos negativos, como agora estamos a viver.
Sobre este aspecto não posso deixar de me interrogar sobre o que sofreríamos, na altura, se não conseguíssemos que nos financiassem, como aconteceu com a troika. Pela certa que teríamos sofrido muito e os mais fragilizados economicamente seriam os que mais sofreriam. Sobre este aspecto não é mais do que acontece com as empresas que caiem em insolvência, ou com famílias no desemprego, sendo ainda pior porque os trabalhadores destas, ainda têm direito ao desemprego, desde que o Estado tenha disponibilidades para tal.
Esta ideia, para os que nela acreditem, deveria levar a que o país não voltasse a cair na mesma situação, até porque ponho dúvidas se, com a nova conjuntura que se passa na Europa, ainda haveria uma troika para nos financiar.
Poderão os meus leitores perguntar-me como se pode evitar cair em riscos deste tipo, ao que respondo que é fundamental que as pessoas se munam de um mínimo de conhecimento económico, não só para gerir bem as respectivas vidas, mas sobretudo para não acreditarem em promessas sem sentido, feitas por partidos que querem o poder a todo o custo.
De facto o nosso sistema político não permite uma boa governação, pelo que me parece fundamental que o povo faça sentir aos políticos, o quanto apreciaria se o sistema político, no âmbito do regime democrático, fosse concebido, a fim de permitir uma boa governação e de forma a não nos conduzir para endividamentos desequilibrados, que podem gerar no futuro muita instabilidade social.
Como diz o povo, homem prevenido vale por dois, pelo que a precaução na matéria em apresso é também fundamental.

29/07/2020
 

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