José Dias Pires
AS PESSOAS, OS PROJETOS, O SUCESSO E O INSUCESSO NAS ORGANIZAÇÕES
Na comunidade albicastrense, temos assistido ultimamente a diversas e, quase sempre, pouco fundamentadas tentativas de discutir o sucesso e o insucesso de projetos para promover ou denegrir correligionários ou adversários.
Aprendi ao longo da minha vida profissional e das minhas responsabilidades institucionais, no âmbito da psicossociologia das organizações, que as pessoas e os projetos são indissociáveis. Mas quem tem a prioridade? Mal está a sociedade e as organizações, quando as pessoas se sobrepõem aos projetos e esquecem que são estes que contribuem para as mudanças que servem as comunidades.
Aos projetos e às pessoas que os determinam e executam estão sempre associados dois conceitos que, cada vez mais, têm relevância no nosso quotidiano - o sucesso e o insucesso.
O sucesso dimensiona-se e estrutura-se entre o “conseguir ter” e o “conseguir ser” sempre associados à ideia de ser capaz, conseguir, vencer e alcançar.
Parecendo contraditórias, as diversas dimensões do sucesso de qualquer projeto, sendo coletivas projetam-se sempre de forma individual:
1 - O esforço físico e o trabalho que conjugam o treino (a preparação), a prática (a experiência) e a perseverança. Esta conjunção permite ultrapassar os erros e desenvolver um processo contínuo de aprendizagem que há de estabelecer os alicerces em que assenta o sucesso.
2 - O esforço intelectual que implica o saber identificar e fasear as necessidades, e as ideias que hão de servir para estruturar qualquer projeto para dele se conseguir obter os melhores resultados. Estão-lhe associados aspetos individuais como o talento, a criatividade, a inteligência e a inovação que explicam a velha asserção de que o trabalho por si só não gera o sucesso.
3 - A autoconfiança que relaciona o sucesso com a capacidade individual que, por sua vez, se associa à iniciativa, à eficácia, à capacidade de decisão, à força de vontade, à persistência, à firmeza, ao pensamento positivo, ao saber enfrentar as derrotas e à autoestima. Mas tal não pode nunca implicar o desprezo dos outros. Para se ter sucesso importa ser sincero, íntegro, humilde, cortês, corajoso e confiante. O elemento chave para um bom desempenho a nível individual assenta, assim, na capacidade de os indivíduos acreditarem nas suas faculdades e serem capazes de as projetar em equipa.
4 - As relações humanas e a comunicação. Quem não adquire competências relacionais, dificilmente consegue fazer singrar os projetos que lidera. A simpatia, a amabilidade, a generosidade, a cordialidade, a sociabilidade e a humildade são, neste particular, componentes fundamentais.
São estas quatro dimensões que consubstanciam a necessidade de realização, também designada pelo “motivo de sucesso”, que se define como o desejo ou a propensão para vencer obstáculos e atingir o mais possível uma elevada qualidade - a excelência; de competir com, e nunca contra; no esforçar-se, de forma intensa, prolongada e repetida para realizar algo de difícil; no desenvolver trabalho com o único propósito de atingir objetivos elevados e, à partida, distantes; no estar determinado a vencer e procurar fazer tudo com elevada qualidade e no exercer o poder da vontade individual respaldado pela convicção coletiva.
E o insucesso?
O insucesso está sempre relacionado com a falência das redes de cooperação nas organizações que determinam uma exagerada competitividade individual que desaproveita as competências individuais, ou exponencia e promove como competentes (incompetências estruturais) que ferem a sustentabilidade organizacional.
Ao insucesso de qualquer projeto organizacional estão sempre associados o individualismo, os problemas de relacionamento, a divergência de objetivos e de interesses, a falta de liderança, a falta de comprometimento, a resistência às mudanças, a diferença de procedimento dos que o integram, a falta de confiança, a não partilha de informações e a desresponsabilização na cadeia hierárquica através da culpabilização de elementos dos níveis inferiores.
Ao longo da minha vida profissional e das minhas responsabilidades institucionais, aprendi que, para quem persegue apenas interesses individuais e projetos pessoais, é sempre mais fácil centrar as atenções nos insucessos e fazer tudo por ignorar os sucessos dos que, num dado momento e por uma especifica circunstância, lhe são adversários.
Sei que aos referidos pouco importa saber que o sucesso que se projeta na comunidade (mesmo o alheio) se deve promover, mostrar, divulgar e aprofundar, porque permanece apesar do tempo e, podendo parecer individual é (ou devia ser) sempre coletivo. Sobre o insucesso, que deve ser constatado, analisado e posteriormente resolvido, assinalam com denodo o que é visível e não procuram compreender o que falhou na rede de cooperação institucional, para o resolver e melhorar.
Na verdade o sucesso e o insucesso nas organizações, sendo sempre coletivos, têm lideranças individuais que, em qualquer das situações, por eles se obrigam a ser responsáveis. Não devem (nem deviam poder) ser descartados ou exponenciados, sem fundamento, como arma de arremesso para promover ou denegrir correligionários ou adversários. Mas infelizmente são.