Edição nº 1653 - 26 de agosto de 2020

Alfredo da Silva Correia
OS CUSTOS POSSÍVEIS DO NOSSO ENORME ENDIVIDAMENTO - ADAPTEMO-NOS

O nosso enorme endividamento, está hoje aparentemente controlado, a partir das envolventes socioeconómicas internacionais, que permitem até a existência de taxas de juro negativas, a partir de disponibilidades monetárias enormes, porque não são procuradas, no nível necessário, por investidores que ofereçam garantias.
Mas a verdade é que a divida total do povo português já ultrapassa os 750 mil milhões de euros dos quais cerca de 260, sem contar com a oculta, são divida do Estado e portanto de todos nós. Quando alguém pondera sobre a possibilidade de pagarmos tamanha divida muitos dizem que não é possível, afirmando que é para gerir e não para pagar.
Não obstante, esta situação já foi vivida pelo povo português noutras épocas tendo, a mais recente, sido a divida que o povo português tinha quando chegou à governação do país o Salazar, que acabou por ser paga ao longo dos tempos, com muito sacrifício do povo, tendo até sido completamente paga já pelo actual regime democrático. Tal significa que afinal não foi perdoada pelos credores e os governantes portugueses, ao longo dos tempos, entenderam que era preferível fazer sacrifícios e pagar mesmo a divida, do que sofrer as consequências do seu não pagamento. É que por trás das dívidas estão sempre credores, que não deixarão de reagir perante o não pagamento dos devedores, pelo que a ideia de a não pagar considero-a uma utopia.
Reitero, a nossa divida está agora controlada mas muito dificilmente as envolventes internacionais se manterão eternamente na actual situação, pelo que chegará o tempo da subida das taxas de juro e de redução da abundância de moeda que hoje há pelo mundo fora e quando tal acontecer chegará então a hora de sofrer a falta de equilíbrio verificada nas últimas décadas. Aliás, sobre este aspecto até me desafio a ponderar como seria hoje o nível de vida do nosso povo se ao longo das últimas décadas o nosso endividamento tivesse um nível de controlo, 60% do PIB, e não de descontrolo, não me sendo difícil concluir que seria bem inferior àquele de que beneficiamos salvo, obviamente, se os nossos governantes injectassem no povo uma cultura de maior luta pela produção, o que na minha opinião é possível.
Acontece que, ao longo da minha vida de gestor sempre compreendi que o pior que poderia fazer a um trabalhador era decidir que ele ganhasse mais do que aquilo que produz, pois um dia a verdade chegaria, sendo dura para ele. É o que pode acontecer com o povo português, ao viver acima daquilo que efectivamente produz ao longo de várias décadas.
Sendo assim, a grande dúvida que se nos deve pôr é de se vamos conseguir manter sempre o actual nível de vida, ou se chegará a verdade e nesse caso o povo português acabará por ter que viver apenas com o que efectivamente produz, ou com menos, se quiser pagar a dívida.
É uma previsão que não é nada fácil fazer, embora ao longo da história da humanidade a economia tenha funcionado por ciclos que, em média, têm a duração de entre dez e quinze anos, razão pela qual não será de excluir a possibilidade de dentro de algum tempo haver uma inversão das envolventes socioeconómicas mundiais, caindo-se então numa situação de juros altos, com as consequências inerentes para os grandes devedores, como nós somos.
Aliás, hoje quem está a suportar o custo das actuais envolventes socioeconómicas são os aforradores que são confrontados com a desvalorização do que aforraram em moeda, situação que está a conduzir ao desinteresse em se fazerem poupanças, o que por si só não deixará de ter consequências na criação de riqueza e o que ajudará também à alteração das envolventes que estão a conduzir à política de juros negativos. Nunca o aforro do povo português foi tão baixo e sem aforro não há investimento, pelo menos sem fazer crescer o endividamento. É, no entanto, interessante constatar que, em pandemia, conjunturalmente, o aforro, de todo o povo, cresceu, apesar de muitos portugueses terem tido redução de salários e outros até terem caído no desemprego.
Será que se verificou uma maior consciencialização para a necessidade de prevenir o futuro, ou tal deve-se ao facto de com a pandemia haver menos necessidades a satisfazer? Para mim tal crescimento será um misto de ambas, mas não tenho dúvidas que tal só é possível porque o nosso Estado se está a endividar gerando na sociedade portuguesa um poder de compra fictício, por não corresponder a produção. Se um dia o Estado for confrontado com uma política de juros altos, ou de dificuldades de realização de novos financiamentos, então cairemos na nossa realidade, pelo que dificilmente poderemos fazer crescer a nossa poupança colectiva, como seria desejável.
Enfim, é uma matéria que não sendo nada fácil terá as suas consequências que não deixarei de procurar aprofundar. A história tende a repetir-se, sempre com o mesmo grau de sofrimentos de um povo. Se a história fosse devidamente estudada e recordada evitar-se-iam, pela certa, muitos sofrimentos ao povo.

26/08/2020
 

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