Edição nº 1656 - 16 de setembro de 2020

Alfredo da Silva Correia
A PANDEMIA E O GOVERNO - ADAPTEMO-NOS

Gerir ou governar nunca foi fácil, salvo para os que gerem ou governam sendo incapazes, pois estes tomam as medidas de uma forma fácil, sem sequer as quantificar devidamente, o que infelizmente acontece muito no nosso país, com consequências bem nefastas. Mas se não é fácil numa situação normal, tal ainda é muito mais difícil, a partir do surgimento de imprevistos, como hoje nos está a acontecer com a pandemia, tornando-se tudo muito mais complicado.
Consciente do referido, fiquei muito atento às medidas tomadas pelo nosso governo, ao procurar minimizar, no máximo possível, os problemas surgidos com a COVID-19 e sinceramente, salvo um ou outro pormenor e eventualmente, demasiada e imprecisa legislação publicada, muito dificilmente alguém faria diferente, ou mesmo melhor, até porque vivemos com recursos muito limitados.
Logo no início da pandemia, senti que uma grande maioria da população defendia o “confinamento”, do que não poderia deixar de resultar a paragem, ou redução forte, da economia, o que me levava a pensar que poderíamos não morrer do mal, mas morreríamos da cura, pois sem produção não há vida.
Na altura até senti que o nosso Presidente da Republica era defensor da paragem, como meio de defesa da pandemia, ao contrário do 1º Ministro, que me parecia muito mais preocupado com o problema económico, o que considerava correcto.
Felizmente pareceu-me que houve bom senso e verificou-se uma paragem, mas o 1º Ministro não tardou a procurar por a máquina produtiva a funcionar, na medida do possível, ainda que tomando medidas preventivas para que a COVID-19 alastrasse o menos possível, o que considerei, correcto.
Assim, não tenho dúvidas em afirmar que perante tantas incógnitas que um problema destes não deixaria de criar aos decisores, pareceu-me que foi feito o possível e que até a oposição, na generalidade, não esteve mal, neste grande problema que o povo português, como o resto do mundo, teve que enfrentar, ainda que como é óbvio o problema, infelizmente, persista, agora até com um certo agravamento preocupante.
Das medidas tomadas com o objetivo de minimizar os reflexos sociais vividos, como foram o layoff simplificado e de muitos outros apoios sociais, a quem ficava sem poder trabalhar, só podemos dizer que foi feito o possível e bem. Não obstante, não podemos deixar de ter em conta que o respetivo financiamento não ocorreu a partir de poupanças existentes, mas sim de novos financiamentos, deteriorando ainda mais a situação financeira do país, o que não se pode deixar de se constituir numa forte preocupação.
Enfim, são análises que têm que ser feitas, mas sem dúvida que foi sempre melhor terem-se tomado tais medidas de apoio, ainda que gerando novos endividamentos, do que nada fazer, pois tal não deixaria de representar que muitos passariam ainda muito pior, se não tivessem estes apoios.
Desta forma só temos que apoiar o governo nas medidas tomadas, embora não possamos deixar de ter em conta que muito dificilmente as mesmas se podem manter por muito tempo, já que não há recursos financeiros para o efeito. Estamos inseridos na Europa, o que nos permite ter a esperança de algum apoio, a partir dos princípios de solidariedade que na mesma tem sido uma realidade, desde a sua criação. Não obstante não podemos deixar de considerar que se trata de uma crise mundial, pelo que não devemos excluir a possibilidade de perante as dificuldades de todos, se poder instalar uma cultura de que cada um que se governe, o que seria para nós uma grande desgraça, pelas nossas fraquezas económicas e financeiras.
Por esta razão e porque estamos sempre sujeitos a imprevistos é que é aconselhável que quem gere ou governa tenha como princípio fazer poupanças, a fim de que se possa fazer face a imprevistos, cultura que dificilmente é prosseguida pelos nossos governantes, já que a tendência é, a de até prometerem o que não há, para ganharem eleições.
Assim não posso deixar de saudar os governantes que tiveram a coragem de aguentar firme e encarar de frente as enormes dificuldades que uma situação destas sempre exige. É possível que tenham cometido alguns erros. Não obstante, sempre compreendi que só não comete erros quem nada faz, razão pela qual tem que haver compreensão para quem está à frente do leme, numa situação tão difícil quanto a que estamos a viver.
Referi atrás que, na generalidade, a oposição, também tem estado bem, mas temo que aproximando-se a aprovação do orçamento de 2021 comece a luta pelo poder e com ela surjam exigências que a situação económica que atravessamos não permite, sem agravamento da já difícil situação económica e financeira que atravessamos. Por estes riscos é que sou um defensor de que, no âmbito do regime democrático, o sistema político seja concebido, a fim de que se permita a criação de maiorias absolutas, pois só desta forma se consegue uma boa e equilibrada governação. Sei que há quem tema que as maiorias absolutas se tornem em absolutíssimas e se gerem exageros, mas se governar não é fácil, quando é necessário tomar medidas difíceis como a actual situação exige, então em minoria tais medidas acabam por não ser tomadas e um dia o povo paga a má governação.
Não tenho dúvidas que, esteja no governo quem estiver, a situação sócio económica em que hoje vivemos é de tal modo difícil que, ou somos bem governados e nos vamos adequando à dureza da nossa realidade, ou podemos cair numa situação de descalabro, o que julgo ninguém deseja.
Assim espero que as oposições não conduzam o nosso povo para uma situação de ingovernabilidade, o que nos conduziria para uma situação dramática, até porque a crise económica vai ser infelizmente bastante duradoura e vamos viver tempos bem conturbados, durante os quais tudo nos pode acontecer. Não estranharia muito que dentro de alguns meses o nosso governo tenha que vir a terreiro, informar que não tem condições para continuar a apoiar os necessitados, ao nível em que o tem feito, razão pela qual é obrigado a minimizar tais apoios, a fim de que se resista. Numa situação destas muitos vão ficar no desemprego, com as consequências inerentes e outros vão ser confrontados com uma redução de rendimentos, resultando tudo num modo de vida bem diferente para pior, do que aquele de que temos beneficiado.
Enfim, vamos ver, desejando muito estar enganado nestas minhas previsões, o que só poderá acontecer se a Europa nos apoiar mesmo.

16/09/2020
 

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