Alfredo da Silva Correia
O QUE ESPERAR NO NOSSO PAÍS NO FUTURO PRÓXIMO? - PREVISÕES/PREPAREMO-NOS
Num dos meus artigos anteriores fiz observações sobre se o processo da globalização regressaria, ou não, ao ritmo do crescimento anterior, antevendo que sim, mas que levaria algum tempo para que tal acontecesse, o que significa que vamos passar por períodos conturbados em termos económicos e mesmo sociais, durante ainda um tempo razoável.
Se assim for e não tenho dúvidas que o tempo que levará a que tal aconteça, dependerá também muito da evolução da pandemia e da capacidade de ataque à mesma, não podemos deixar de reflectir e ponderar sobre as alterações das envolventes socioeconómicas que vamos viver no nosso país, nos próximos tempos.
Sobre este aspecto não podemos deixar de ter em conta que a nossa produção tem estado em queda acentuada, mais nuns sectores de actividade do que noutros, como é obvio. Acresce que o orçamento geral do Estado também está a ter défices elevados, cobertos por novos endividamentos, situação que dificilmente se poderá manter por muito tempo, sem que sejam tomadas medidas correctivas.
De facto, com a inversão, ainda que temporária, do ritmo de o crescimento do processo de globalização, sem dúvida que as actividades turísticas, de transporte e os que exportam, são aqueles que mais sofrerão. Acontece que a pandemia que se instalou tem dimensão global, pelo que terá consequências difíceis de medir no nosso nível de vida, sobretudo porque o nosso Estado não deixará de deparar com maiores dificuldades em se financiar, até porque vai ter que contar com muito menos receitas de impostos.
O crescimento fraco do nosso PIB, durante as últimas duas décadas, fundamentou-se, essencialmente, no sector do turismo e este para que continue a dar o seu contributo, exige mobilidade a nível internacional. A verdade é que com a pandemia instalou-se a nível mundial a ideia que era perigoso haver deslocações para outros países, sobretudo ao nível em que acontecia, antes de a pandemia ter aparecido.
Assim sendo, para que voltássemos a ter o ritmo de crescimento que tínhamos no sector do turismo, tem que a nível mundial, se instalar a ideia de que nos podemos movimentar, com poucos riscos, porque tomamos as medidas de protecção adequadas, o que não é fácil acontecer num período curto de tempo.
Desta forma, no curto e médio prazo muito dificilmente, poderemos contar com a actividade turística para crescermos em termos económicos, razão pela qual se impõe que ponderemos que alterações deverão ser feitas, para nos adequarmos a esta realidade. Obviamente, que o sector do turismo mexe com inúmeros sectores, como por exemplo, o dos transportes, do imobiliário, da animação, entre outros, nos quais muitos portugueses vinham fazendo a respectiva vida económica e que vão deixar de o poder fazer ao nível em que tal vinha acontecendo, antes da crise da pandemia.
Sem podermos contar com todas estas actividades ao nível em que as tínhamos, não podemos deixar de concluir que ou as substituímos por outras, ou vamos ser confrontados com sérias dificuldades para fazermos a nossa vida económica, até porque é difícil acreditar que o nosso Estado possa manter por muito tempo o apoio às empresas e às famílias, pelo menos ao nível em que tal tem acontecido.
De facto é bem sabido que estes apoios só são possíveis, a partir de endividamento, na medida em que também o próprio Estado vai ser confrontado com uma queda abrupta e progressiva na cobrança de impostos. Acontece que não é possível uma organização, seja ela um Estado, uma empresa, ou uma família, viver sempre de endividamentos, até porque os credores a partir de certa altura ou deixam de emprestar ou aumentam as taxas de juro, tornando impossível novos empréstimos, pelo que as organizações em causa caem na realidade e têm que passar a viver apenas com o que conseguirem produzir.
É verdade que estamos inseridos na Europa o que leva alguns a pensar que esta estará sempre disponível para solidariamente nos apoiar. Não obstante, esta também não pode deixar de fazer os mesmos raciocínios que defini para as restantes organizações, pelo que acreditar que ela terá sempre condições para nos apoiar pode vir a revelar-se uma ilusão. De facto é sabido que todos os povos da Europa, face às novas envolventes estão a viver com maiores dificuldades, obviamente uns mais do que outros, razão pela qual nunca se sabe se na Europa não se instala uma cultura de que, cada um que se governe.
Perante este quadro, parece-me lógico que se pondere como vai viver o povo português a partir do momento em que o nosso Estado comece a ter maiores dificuldades em se financiar, o que pode não estar muito afastado no tempo, na medida em que o nosso endividamento já é enorme.
Assim, perante tais possibilidades que ninguém pode desejar que se concretizem interroguemo-nos de como vamos fazer a nossa vida económica, até porque já há quem profetize que o desemprego vai, num período não muito longínquo, atingir o milhão de pessoas, o que por si só já é uma alteração significa.
Perante este quadro eu direi que vai ser fatal como o destino que nos próximos tempos, todos iremos perder poder de compra, para procurarmos algum equilíbrio, entre o que conseguimos produzir e o que consumimos.
Sendo uma problemática nada fácil de ser resolvida, esteja no poder quem estiver, merece a mesma uma profunda reflexão, até porque quem estiver à frente do leme vai ter que ter uma grande capacidade para explicar as medidas que terão que fatalmente ser tomadas e que ninguém deseja. Vamos ver…