Edição nº 1659 - 7 de outubro de 2020

Alfredo da Silva Correia
PREVISÃO SOCIOECONÓMICA MAIS GRAVOSA - Previsões/Preparemo-nos

Em artigos anteriores fui dissertando sobre previsões para a evolução socioeconómica no nosso país, face não só ao processo da pandemia que vivemos, mas também às profundas alterações climáticas que se vêem verificando, até porque já circulam, nos noticiários, mapas definindo as regiões do planeta em que deixará de haver condições de vida, mapas que procuram definir a progressividade de tal nos próximos 50 anos.
Sendo tal uma preocupação, sobretudo se nada for feito que inverta tal percurso, hoje gostaria de transmitir que no nosso país também já circulam notícias de que num período não muito longínquo, muitos serão confrontados com enormes dificuldades de sobrevivência, ao ponto de haver quem pense que poderemos vir a ter uma forte perda de rendimentos, podendo, inclusivamente, vir a verificar-se falta de alguns alimentos.
São leituras em que todos, como eu, temos dificuldades em acreditar e mesmo aceitar, mas a verdade é que hoje não há grandes certezas quanto à estabilidade da Europa, como é verdade que não só temos um enorme endividamento, como temos um Estado a funcionar de uma forma muito deficiente, pela cultura de facilidades instalada, ao longo das últimas décadas.
Poderia dar inúmeros exemplos para demonstrar esta afirmação mas ela está bem patente no desinteresse em se ser hoje empresário e até alguns que o são, tudo fazem para deixarem de o ser e tal está a acontecer não só pelos ataques de que são alvo na sociedade, mas também nas dificuldades que têm em conseguir até um simples registo numa Conservatória, para não falar nas inúmeras dificuldades em se conseguir a aprovação de um projeto numa Câmara Municipal, ou até do mau funcionamento da Justiça.
De facto, na nossa administração pública hoje não existe, ou antes não se pratica, uma hierarquia de poderes, estando instalada uma cultura de pareceres para, por cima, decidirem, normalmente políticos com poucos conhecimentos do que estão a decidir, o que encrava os processos, desmotivando muitos a investir. Acresce que quando a escumalha incapaz ataca nas redes sociais os que mais são capazes de gerarem produção e estes se desmotivam por tal, o bom povo acaba sempre por pagar, quantas vezes atingindo-se níveis de pobreza bem grandes. Hoje, novos investimentos empresariais são poucos no nosso país, sendo a grande maioria dos que vão aparecendo de estrangeiros.
Este facto torna-se ainda mais gravoso por os políticos começarem por não ser estáveis, já que o sistema político e o próprio ambiente social não incentiva a tal, mas também por a qualidade dos mesmos ser cada vez mais fraca, já que as responsabilidades a que hoje se sujeitam e os ataques frequentes, estão a afastar os mais capazes em termos de gestão, para se candidatarem a lugares políticos. É lamentável, mas hoje quando surge um problema gera-se logo um ambiente social de pedido de demissão, não havendo a mínima convicção de que com a mesma se perdem conhecimentos adquiridos em tais desempenhos e não ser fácil conseguir-se que quem venha domine a atividade, pelo que muitas vezes não se resolve problema nenhum agravando-se a situação.
De facto, hoje não nos é difícil deparar com estruturas estatais, com enormes responsabilidades a serem geridas por pessoas que de gestão nada sabem, o que é bem gravoso, quando se sabe que a estrutura administrativa do Estado também não criou responsáveis com capacidade de gestão e de decisão. No passado, no Estado havia uma hierarquia de responsabilidades e de decisões, o que hoje não acontece, o que leva até a que o mesmo seja considerado um grande entrave ao desenvolvimento socioeco-nómico.
A qualidade da governação tem de facto cada vez mais fraquezas e o resultado está à vista até com o que se passa no sistema financeiro. Efetivamente, durante os últimos tempos o contribuinte português já suportou várias dezenas de mil milhões de euros para evitar a falência de bancos e suportou-os porque tais falências penalizariam injustamente muito os depositantes e por essa via a credibilização do próprio Estado.
Poderemos, interrogar-nos, de quem é a culpa de tal e embora muitos afirmem que é dos respetivos administradores dos bancos, a mim parece-me que a culpa é do próprio Estado que tem obrigação de bem regular e controlar um sector no qual o povo até é obrigado a depositar os seus rendimentos e poupanças, o que não tem de forma alguma acontecido.
De facto acontece que o Estado nem regulou nem controlou devidamente tal sector, ao ponto de entender e permitir que os respectivos administradores ganhem salários pornográficos e ainda beneficiem de gratificações enormes, quando o banco respectivo tivesse lucros significativos. Acontece que ter lucros com o dinheiro dos outros é fácil, pois não é difícil aplica-lo em produtos de alto risco, que os remunera muito bem, mas apenas em prazos curtos. Acresce que também não é difícil que com o dinheiro dos outros (depositantes) fazerem-se empréstimos com boas taxas de juro e haver um período, geralmente curto, em que o banco tem bons ganhos.
Numa situação destas todos estão de acordo que os administradores ganhem os tais salários e gratificações pornográficos, com efeito de arraste em toda a estrutura do Banco, mas um dia a verdade chega e as aplicações perdem-se, porque aplicadas para se terem ganhos imediatos fáceis, como se perdem os empréstimos de juros altos. Logo que tal acontece os administradores ou já deram à sola com os bolsos cheios, ou são penalizados com a demissão, e o Estado (contribuintes) sofrem as consequências, como tem acontecido no nosso país, na última década. É fácil arriscar o dinheiro dos outros…
O erro de tal está no facto de o Estado não regulamentar devidamente uma atividade tão fundamental como é a da Banca e não definir nela um teto salarial, a fim de que não se verifiquem os exageros que se têm verificado, com consequências bem desastrosas para o povo português. A administração da Banca Portuguesa tem tido salários equivalentes ou até superiores aos praticados noutros países da Europa, sem se ter em conta que o salário médio português muitas vezes é de menos cerca de 50%, o que se constitui numa irracionalidade que tem um dia que ser paga, como aliás já está a acontecer.
Com este quadro de má governação ao longo de décadas, que conduziu o país para um endividamento descontrolado, com um sistema bancário a funcionar num ambiente desregulado, para além do ataque que é feito pelos incapazes nas redes sociais e mesmo nos partidos aos mais capazes, desincentivando-os de assumir cargos públicos, o povo português dificilmente deixará de ser um dia confrontado com uma espécie de hecatombe económica, que será bem mais grave com o problema da pandemia.
Esperemos que não…

07/10/2020
 

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