Edição nº 1660 - 14 de outubro de 2020

José Dias Pires
PROFESSORES: RESPONDER AOS DESAFIOS E EXIGIR RESPEITO

É minha profunda convicção que por mais que alguns detratores do trabalho nas escolas tentem fugir à questão, os profissionais do ensino passaram, passam e passarão os seus tempos de professores reais (na escola) e de professores potenciais (fora dela) confrontados com quatro grandes desafios: o desafio científico; o desafio pedagógico e didático; o desafio sociológico e o desafio cultural.
O desafio científico infraestrutura o seu desempenho. É a dialética do dia a dia que não se compadece com a cristalização do aprendido. É claramente um desafio interno, individual e íntimo, ao qual cada um responderá na exata medida da compreensão do que representa enquanto resposta às expectativas da comunidade educativa.
Na verdade, a comunidade educativa é, simultaneamente, o melhor fornecedor e o melhor cliente das escolas. Fornece-lhes a matéria-prima e adquire a sua produção, mas não o faz de forma gratuita: exige correspondência às suas expectativas e estas são, antes de mais, a aquisição de competências competitivas, objetivas, modernas, transformadoras e transformáveis, numa palavra: eficazes. E é só perante a avaliação da capacidade de resposta dos professores que estabelece o valor do pagamento: o reconhecimento e a valorização da capacidade profissional, e o apreço pela função social do professor ou, por oposição, o desinteresse e a desvalorização do papel do professor na sociedade.
O desafio pedagógico e didático tem uma importância decisiva. Determina a visualização do desempenho docente. É um desafio dependente da permanente mutação das representações que os alunos, e com eles a comunidade educativa, têm da escola, do que dela esperam que seja para que corresponda ao que dela exigem.
Conjuga-se, neste desafio, a capacidade da abertura, com a capacidade da aceitação.
Abertura a novas propostas de competências, de técnicas, de meios, de formas e de estratégias para o sucesso e de aceitação do fim da infalibilidade do professor e da escola enquanto princípio estruturante da sua ação.
O desafio sociológico enquadra a capacidade de integrar e a vontade de interagir. É um desafio à capacidade de conhecimento, reconhecimento e ação.
Enquanto desafio à capacidade de conhecimento exige atenção, registo e descodificação. Atenção à estrutura complexa e variada que é o quadro originário dos alunos, à variedade dos grupos que se entrecruzam, dos seus interesses, capacidades e expectativas; registo das suas formas de organizar, participar, perguntar e responder e descodificação da sua estrutura comunicativa para potenciar a troca produtiva, a auto e hétero aprendizagem e a diversificação das atividades de aprendizagem, de aplicação e de transferência.
Enquanto desafio à ação só é compreensível e aceitável se determinar a integração de todos os atores potenciais e a interação permanente entre os promotores e os recetores, diretos e indiretos do ato educativo e das ações de ensino e aprendizagem.
O desafio cultural determina a visibilidade da escola e dos professores que, numa escola plural e pluralista, devem ser os garantes da diversificação cultural na sala de aula, na escola e, por projeção natural, na sociedade.
É, em primeiro lugar, reconhecimento e identificação das diferentes expressões culturais em presença, para depois ser o seu conhecimento e caracterização, não podendo abster-se de ter uma componente compreensiva que proponha um trabalho etnográfico, interno e externo, que pode e deve socorrer-se de diferentes técnicas e metodologias, que se aproximam da animação social e cultural, procurando a animação pedagógica, escolar e educativa. Poderá, assim, consubstanciar-se como uma relação mais estreita entre a escola e o seu espaço social de inserção, que permita a presença deste na escola, entendido como lugar de negociação e compromisso entre culturas, que facilita a exploração criativa das diferenças entre elas e a potenciação produtiva das suas comunhões e complementaridades.
São grandes os desafios que educadores e professores de todos os níveis de ensino não desconhecem, mas que, por vezes, parecem esquecidos pelo Ministério da Educação, tentação que, cada vez com mais frequência, também se observa no mundo sindical muito preocupado com os seus posicionamentos na hierarquia dos “influenciadores” sociais.
A estes últimos (ministério e sindicatos) se exigem apenas (o que não é pouco) três desafios: profundo respeito pelo exercício da docência; compreensão pelas extraordinárias e pouco motivadoras condições atuais do exercício profissional; incentivos reais para a renovação do corpo docente (que se não acontecer a breve trecho provocará uma crise ainda maior que a vivida neste preocupante período pandémico) que contribuam para a vontade de resistir ao imobilismo e à resignação gerados pelo cansaço de um corpo docente envelhecido e sem grandes horizontes de um futuro tranquilo e tranquilizador.
Os professores têm-se mostrado capazes de responder aos diferentes desafios que os últimos acontecimentos lhes têm colocado. Esperam, em contrapartida, ações que comprovem o respeito que merecem.

14/10/2020
 

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