João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
OS TEMPOS QUE SE VIVEM EM PORTUGAL são muito muito tristes e penosos. Poucos de nós imaginaríamos estar como agora a viver dentro de um filme de terror, com a doença terrível da qual ainda mal se conhecem as sequelas e com a morte de tantos familiares e amigos próximos. E já nos parecem tão distantes os idos de março e abril com as canções à varanda, as palmas aos médicos e enfermeiros que estavam na linha da frente, com as partilhas de experiências de sobrevivência caseira. Um ambiente de luta romântica contra a pandemia que agora está claramente esgotada. Aquilo que alguns cientistas sociais temiam e antecipavam já vários países vão tendo. O rigoroso confinamento fez sair para a rua muitos contestatários, quase sempre jovens, muitas vezes extremistas de direita. Aconteceu de forma mais violenta na Holanda, mas também na Alemanha, na França e noutros países de outros continentes. Por aqui espera-se que a contestação a haver seja apenas pontual , até porque sendo o país do mundo onde a taxa de infeção e de mortes é a mais elevada do mundo, já temos problemas suficientes. Para além da crise pandémica, económica e social, não é de desvalorizar o estado anímico, a saúde mental de quem é obrigado a ficar em casa, muitas vezes sem condições de espaço e conforto, e a antecipar o que estará para vir, em especial as falências e o desemprego. E há o medo, as imagens de caos que as televisões transmitem quase em contínuo. Não é nada bom, vermos um telejornal passar mais de uma hora com imagens das urgências dos hospitais deste país, com testemunhos de sofrimento e que se repetem diariamente. Haverá país do mundo onde um serviço noticioso de uma qualquer televisão generalista dure quase duas horas? Provavelmente será porque é mais difícil, editorialmente, selecionar e editar a informação que deveria chegar a todo o cidadão, de uma forma clara e sucinta. Por isso caro leitor, aceite a nossa sugestão, não fique preso aos canais de informação. Selecione a informação, leia, ocupe-se nas pequenas coisas que tem ao seu redor, proteja a sua saúde mental.
MAS HÁ MAIS MUNDO PARA ALÉM DA PANDEMIA. E o mundo move-se, por exemplo na Rússia, onde Putin enfrenta a maior onda de contestação, nos muitos anos em que exerce o poder autocrático. A prisão do seu principal opositor político, Alexei Navalny, poderá ter-lhe aberto a caixa de Pandora, como ele nunca teria imaginado. Uma repressão brutal das forças policiais e mais de cinco mil manifestantes presos por dia, não estão a fazer calar a voz dos muitos russos, principalmente jovens, que perderam o medo (e o respeito) a Putin. Que agora não tem, na América o seu fantoche Trump a dar-lhe cobertura. Há movimentos populares que são como um rio em fúria, não há barreiras que o segure.