Edição nº 1681 - 10 de março de 2021

Antonieta Garcia
UM CAFEZINHO! POR FAVOR…

Quando saio, é para fazer compras. Confesso que me demoro um pouco mais na rua do que era habitual, mas apanhar ar, sentir o frio nos olhos, o vento na testa (uso máscara!), dão-me alma para o resto do dia. Entretanto, vou cometendo muitos pecados. Falo com as senhoras e senhores das lojas, das padarias, pastelarias... Abandonei, um tanto, o Supermercado, porque uma conversinha a preceito, a tal “engenharia social” não se “vende”, não se “compra” nos híperes. Fica mais caro? Talvez. Mas descontrai.
E se antes não ouvia o que as pessoas diziam e entrava nas grandes superfícies com a filosofia da pressa que também levava para as lojas de bairro, agora, com a pandemia, converti-me a um ritmo pausado. Ouço tudo, aponto, argumento, desde:
- A laranja é doce? É do Algarve? Estes pães são de hoje? Outro dia tinha maior variedade... Já experimentou estas alfaces criadas na água? São tão tenrinhas…
Outro dia, foi um docinho num frasco com um vermelho brilhante, que me prendeu:
- É bom?
- Ainda não experimentei! É picante! Quer provar?
Tossimos e rimo-nos com vontade. Acho que nem os indianos, peritos nesta área, atingiram o nível de tempero que radiografasse com tanto pormenor o aparelho digestivo, depois de ingerir um pouquinho do produto. Minutos depois, conclui-se que o paladar tem piada e… veio para casa para analisar devidamente. Ficou-me lá a conserva de malaguetas! Logo lá volto.
Ora, tudo isto leva tempo, exige muita conversa…. Acrescente-se ao paleio a notícia do dia, o desânimo... Nunca mais nos livramos disto! Já tenho uma autoestrada de cabelos brancos; estou farta de gavetas… e pérolas semelhantes.
Perco-me mais nas pastelarias. Não há festas sem doce, sabe-se, mas pode haver doces sem festa. O açúcar não se recomenda? Alguma coisa há de aconchegar o ânimo. E se, romarias e dias sagrados escolheram uma doçaria para celebrar, agora, pertinho da Páscoa, o folar, as santinhas de açúcar, os bolos de três pernas, os suspiros, os pastéis de nata, as bolas de Berlim… caem bem em qualquer dia e a qualquer hora.
O que é doce nunca amargou, ninguém desmente, e se não praticássemos estes desrespeitos ficávamos sem matéria de arrependimento, quando a balança acusa as transgressões. Essa nunca se engana; qualquer dia ponho-a em confinamento e tiro-lhe a pilha… Em tempo de pandemia, deixemo-nos de heroísmos que podem pôr em risco equilíbrios e harmonias.
E as histórias que uma pastelaria conta! Ali, aprende-se o saber de freiras e de frades, gente mais ou menos confinada a conventos que ensaiou modelos de bolaria... com prestígio confirmado pelo nome batismal. Barrigas e gargantas de freira, o toucinho do céu, os papos de anjo, beijinhos de freira… são designações pouco católicas atendendo a quem, presumi-velmente, os criou.
Mais: quem não ouviu falar de jesuítas, broas de ovos do convento, fatias do céu, gemas à Frei Carlos, manjar divino, pudim do Abade de Priscos…???
São lugares de perdição, as pastelarias! Mesmo em formato “Take away”, quem lhes resiste?!
As receitas podem fazer-se em casa? Podem! Por mim, firmei jurisprudência: há profissionais que vivem da arte, têm a mão calhada, sabem segredos que não querem desvendar... fico a perder em tempo e qualidade.
E trago uma crítica no peito que grita para sair. Na verdade, tudo é aturável (não temos outro remédio), mas o cafezinho... Ainda ouço um companheiro de sorte:
- Faz-me tanta falta um cafezinho... Em casa, não tem o mesmo sabor mesmo que a marca seja igual!
Adoçava o lamento: - Um cafezinho!!! Quando terei direito a um cafezinho?
Não sei como, percebi que está ali o primeiro degrau da subida para um Paraíso. Que aroma! Que paladar a pandemia nos ensinou! Antes, não dávamos por esta excelência! Com saudade doida, pergunto: Amigos agora não ia um cafezinho?!

10/03/2021
 

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