João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
O INCIDENTE PROTAGONIZADO PELAS AUTORIDADES da Bielorrússia este fim de semana foi de uma tal gravidade que, por colocar em causa todos os princípios do direito internacional, exige uma resposta firme da comunidade internacional, particularmente da comunidade europeia. Assistiu-se a uma ação de terrorismo de estado, de pirataria aérea descarada, ao fazer desviar da sua rota, um voo comercial entre duas cidades da União Europeia, fazendo aterrar no aeroporto de Minsk, capital da Bielorrússia, um avião da companhia Ryanair. À sua espera tinha a polícia política do país, a KGB, a mando do tiranete Alexander Lukashenko, aliado amantíssimo de Putin, há 26 anos no poder. Com as últimas eleições a serem consideradas fraudulentas e não reconhecidas pelos EUA e pela União Europeia. E toda esta ação de terrorismo teve por objetivo tão só capturar o jovem jornalista Roman Protasevitch que ia a bordo de um avião que deveria estar sob proteção das autoridades europeias. Por isso pede-se muito mais à Europa que um simples pedido de esclarecimento. Muito mais. Mesmo eventualmente tendo de enfrentar as relutâncias de Viktor Orbán da Hungria, cujas derivas autoritárias e antidemocráticas o afastam cada vez mais dos ideais democráticos sobre que se construiu a Europa. Protasevitch é um jornalista crítico do regime, colaborador da líder da oposição, que a partir do exílio e num canal da plataforma digital Telegram, a Nexta e Nexta Live, tem denunciado o regime e promovido ações pacíficas de protesto depois das eleições presidenciais fraudulentas de 2020. Por tudo isto, poderá estar agora a ser sujeito a tortura, acusado de terrorismo e enfrentando uma pesada pena de prisão. Sabe-se como as ditaduras odeiam o jornalismo livre e a liberdade de expressão crítica. Esta segunda, os chefes de Estado e os dirigentes da União Europeia, em reunião extraordinária do Conselho Europeu já deram o mote, garantindo uma resposta “firme e robusta”, a começar pela proibição dos aviões bielorrussos sobrevoarem o espaço europeu. É isto e muito mais o que se exige como resposta àquilo que o Presidente da Lituânia considerou como “ação abominável de terrorismo estatal”. Sem contemplações nem paninhos quentes diplomáticos.