Edição nº 1696 - 23 de junho de 2021

Elsa Ligeiro
VOTAR OU NÃO VOTAR

Foi com muita preocupação e algum escândalo que assisti ao silêncio quase absoluto na aceitação de 15 estados de emergência contínuos.
É fácil, como se vê, governar em tirania, quando um povo perde preguiçosamente a defesa da sua Liberdade.
Com uma televisão sempre presente na sala ou na cozinha, é fácil a manipulação e a venda de uma vida de emoções e de lágrimas aparentemente inclusivas.
Assistir a um programa da manhã ou da tarde para entreter reformados, desempregados e donas de casa, é penoso.
A gargalhada mistura-se em poucos minutos com um choro emocionado perante “a vida real” a quem a televisão abre espaço; numa montra de emoções que alguns dizem servir de âncora às vítimas da injustiça e aos despojados sociais; mas que (é nítido) não passa afinal de um palco que se usa como um muro de lamentações; gerando gratuitamente um espetáculo televisivo.
Na televisão podemos protestar contra as desigualdades de tratamento na justiça, nos hospitais, na loja do cidadão. E isso é um oásis para quem todas as portas “na vida real” se fecharam; a quem já não resta outra saída que contar a sua tragédia num programa de grande audiência.
A Justiça numa sociedade que se quer livre tem de ter as portas escancaradas por onde todos possam entrar em pé de igualdade. Mesmo todos; e não uma continuação do jogo económico que aniquila o mais fraco, reservando o direito à liberdade para o mais forte.
Uma sociedade verdadeiramente democrática educa os seus cidadãos para a liberdade; para a tolerância e para a justiça.
“O primeiro tema da reflexão grega é a justiça… “escreve, num belíssimo poema, Sophia.
O mais forte sintoma de que algo vai mal na nossa democracia é assistir impávidos e serenos à fraca participação em atos eleitorais.
Ficar em casa ou ir à praia quando se decide o nosso futuro comum, quando a responsabilidade e o uso da liberdade individual pode transformar e melhorar a nossa liberdade coletiva; é algo que nos deve preocupar.
Especialmente em 2021, em que a liberdade é um valor que tem que ser defendido (de novo) em trincheiras e numa vigília permanente, como nos mostram os avanços de ideias fascizantes que julgávamos já ultrapassadas.
O não cumprimento de algo tão simples como o ato de votar; denota uma total inconsciência no uso de um poder que só em democracia é possível.
Deixando nas mãos de uma minoria que se agrupa na rede que lhes traz dividendos pessoais; e fiéis no jogo de interesses que criaram para abusar da democracia, servindo-se dos valores no-bres que ela encerra para benefício próprio.
Esquecemos que a democracia é o poder do povo que se organiza para promover o Bem Comum.
É o exercício da opinião livre através do voto de todos os cidadãos.
Sim, o voto é ainda o garante e a ferramenta do exercício da liberdade e de cidadania que permite mudar um governo da nação ou municipal; com regras simples e ao alcance de todos.
Por isso, algo vai mal em Portugal quando mais de metade dos cidadãos deste país desperdiçam, por incumprimento, o seu voto livre e secreto.
Num momento em que a tirania beata se mostra na televisão com toda a sua eficácia gestual de protetores da pátria; é necessário despertar o gene da liberdade que cada um de nós conserva dentro de si.
Todos os que viveram a Revolução de Abril de 1974, a que nos livrou de uma outra tirania beata (lembram-se?) têm a obrigação de transmitir o valor da liberdade aos seus descendentes para que ela se manifeste no voto e comece por ser política, mas que contamine também o trabalho, a cultura e a criação; e nos permita uma evolução significativa da Justiça, sem a qual a liberdade não existe.

23/06/2021
 

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