João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
ACONTECEU ESTA SEMANA A MORTE DE UM HOMEM que divide as opiniões dos Portugueses. Para muitos, herói, para outros tantos, vilão. Morreu esta semana, Otelo Saraiva de Carvalho. Simplesmente Otelo, a personagem histórica que foi o estratega militar responsável pela preparação, planeamento e coordenação do Movimento das Forças Armadas, a quem os seus camaradas que participaram no 25 de Abril de 74, reconhecem o grande mérito de ter contribuído decisivamente para o sucesso da revolução. Revelou-se um génio na estratégia militar, foi figura maior do Movimento, orientando os seus camaradas militares para uma intervenção sem violência, no derrube do regime antidemocrático vigente. Personagem contraditória, o mesmo Otelo, nos anos 80 terá entrado numa deriva de extremismo político, facto que ele sempre negou, como mentor de uma organização de triste memória, que a pretexto de um movimento popular revolucionário, não tem problemas em sujar as mãos de sangue. Uma personagem politicamente mal preparado, lembre-se que a componente política do movimento foi da responsabilidade de Melo Antunes, algo que se manifestou em alguma ingenuidade, voluntarismo e utopia no seu percurso público posterior. Mas estes possíveis erros não devem ofuscar o herói do 25 de Abril, mesmo aceitando que as famílias das vítimas das FP25 não o queiram perdoar. E será como herói, a quem devemos a liberdade e a democracia que a História o haverá de recordar, os seus desvios extremistas serão apenas nota de rodapé. Como escreveu o antigo Presidente Ramalho Eanes, “há homens que num momento histórico especial, se ultrapassam, ganhando dimensão nacional” e que “Otelo é uma dessas personalidades. A ele, a pátria deve a liberdade e a democracia. E esta é dívida que nada, nem ninguém, tem o direito de recusar”.
EM MATÉRIA DE DESCONFINAMENTO, o Reino Unido pode ser considerado a cobaia da Europa. Porque de um dia para o outro, o Dia da Liberdade como ficou conhecido, resolveu desconfinar por completo o país, deixando nas mãos de cada um, por exemplo, a decisão de uso ou não de máscara e distanciamento social. E oito dias passados da arriscada decisão tomada, num país em que a maioria da população já está vacinada, parece que, pelo menos por agora, os números da pandemia estão a dar razão ao governo inglês. Naturalmente que os países europeus vão ter de atuar, depressa ou devagar, neste mesmo sentido, à medida que a vacinação avança e constatando-se a percentagem mínima de já vacinados que necessitam de intervenção hospitalar. Há agora que dar redobrada importância à economia, libertando-a para já das restrições horárias. É um desconfinamento faseado, diferente da do Reino Unido, que defenderam esta terça os peritos reunidos no Infarmed. Com decisões a serem tomadas num quadro de referência que teria de passar a incluir também o nível de vacinação, a morbidade e os internamentos. Veremos o que na próxima quinta-feira, sobre o assunto o Governo nos dirá.