Edição nº 1708 - 22 de setembro de 2021

Patrícia Bernardo
“A IMPORTÂNCIA DA SAÚDE MENTAL NO REGRESSO ÀS AULAS”

Desde Março de 2020, que o novo Coronavírus transformou a vida de todos e implicou diversas mudanças nas nossas rotinas, o que foi causando certo desconforto físico e psicológico, ainda mais numa situação como esta, onde não se tem ao certo as devidas soluções. Não somente os adultos sentiram o impacto da mudança, mas também foi muito pesado para as crianças e jovens, ainda mais considerando a perda de um dos seus ambientes mais seguros, as escolas.
As aulas presenciais passaram a ser online, o contato direto com parentes e amigos deixou de existir, começaram a surgir medos, inseguranças e sensações que foram novas para as crianças e jovens tais como como tédio, ansiedade e o cansaço mental.
O papel das escolas sempre tratou de incluir acolhimento, criando locais seguros de comunicação e neste momento, que estamos face a mais um retorno e desta vez de uma forma que se pensa contínua, essas características terão de ser ampliadas e cuidadas, na intenção de se transmitir ainda mais essa mensagem aos alunos.
Serão muitos os desafios. E vão desde aspetos estruturais e organizacionais da escola, que deverá atender a protocolos Covid-19 até aos aspetos emocionais, que envolvem não só o acolhimento dos alunos como também o das famílias. Todos estão, em alguma medida, sensíveis a tudo que vem acontecendo e, de certa forma, inseguros, ansiosos e um tanto esperançosos com o que está por vir. E, embora o professor e os outros funcionários da escola sejam parte desse coletivo, no momento em que a escola abre, eles são os catalisadores de todas esses vetores, portanto o desafio será grande e os seus papéis ainda mais fundamentais.
Como José Pacheco, grande educador português, lembra sempre: “Escola não é um edifício, escola são pessoas”. Sendo assim, para além de todos os cuidados de higienização, que são importantíssimos, temos que focar-nos na saúde emocional de crianças, jovens e adultos. A situação vivida ainda é delicada sob muitos aspetos e, sobretudo, o aspeto psicoemocional. Muitas e diversas foram as perdas e não podemos fechar os olhos a isso, não será possível continuar de onde havíamos parado, como se tudo tivesse sido umas férias prolongadas.
É preciso reconhecer a nossa vulnerabilidade para podermos entendê-la como potência, no sentido de que esse exercício de autoconhecimento pode-nos direcionar para a procura de estratégias mais efetivas para lidar com as questões que se forem apresentando.
É fundamental olhar para o desenvolvimento e para a saúde mental dos estudantes. Olhar com empatia, realizar um acolhimento desses estudantes, de modo a que eles possam sentir-se seguros, estarmos atentos às competências socioemocionais. Para além do cognitivo, aqueles que estão na gestão escolar precisam ficar bastante atentos e, ao pensar nesse retorno, realizar ações, um planeamento com intencionalidade que olhe para esses aspetos. Por outro lado torna-se importante também que os pais ou responsáveis passem segurança às crianças antes do retorno às aulas. Deve ser transmitido como um processo positivo, onde as vantagens são postas em destaque.
O acolhimento neste momento não é muito fácil, pois ele não pode ser acompanhado dos habituais toques, mas podemos fazer o excelente uso da comunicação não-verbal através de um olhar compreensivo, de uma escuta atenta, de um tom de voz mais brando, de um gesto afetuoso, até mesmo de uma expressão na fisionomia que possa ultrapassar o distanciamento e o uso de máscaras.
O diálogo entre pais e responsáveis com professores e outros profissionais da comunidade escolar é fundamental para facilitar a reintegração das crianças à rotina de aulas. Mais do que nunca, o período de interrupção das aulas presenciais mostrou que a parceria entre escola e a família dos estudantes deve aumentar. Ficou bem patente neste período de isolamento que uma parceria que já era entendida como importante se tornou ainda mais necessária, a ligação e comunicação entre escola e a família.
No que diz respeito a estratégias de apoio à saúde mental e bem-estar de crianças e jovens torna-se importante proporcionar espaços para escuta e troca de experiências, o que pode contribuir para amenizar os efeitos do distanciamento social, perdas e traumas decorrentes da pandemia. Algumas sugestões de atividades, que podem ser desenvolvidas em parceria com as equipas de saúde, assistência social e outras da comunidade local são: pequenos grupos para atividades psicoeducativas e de interação entre os pares; criação de grupos de teatro; formação para abordagem de conteúdos de interesse da comunidade escolar, por ex.
Também pertinente é o fornecimento contínuo de informações de fácil compreensão sobre as medidas de prevenção à COVID-19, com linguagem adequada à faixa etária de cada grupo de estudante. Recomenda-se que tal comunicação continue mesmo após a flexibilização das medidas de distanciamento social.
A própria comunidade escolar pode promover espaços coletivos para a criação de novas expressões de afeto, em substituição ao toque, abraço, aperto de mão e beijo, as formas mais conhecidas de troca afetiva entre familiares e amigos. E muitas descobertas estão a ser feitas através da música, dança, teatro, fala, escrita, desenho, arte, entre tantas outras formas criativas para reinventar a expressão da afetividade, sem perder a delicadeza do apego e garantindo a sensação de pertença.
O sofrimento psíquico de crianças e jovens pode ser mais intenso em contextos familiares com problemas de saúde física ou mental de longa duração, baixa rendimento mensal ou desemprego, pais que atuam como profissionais da saúde ou que tiveram uma experiência stressante relacionada à COVID-19. Tais situações podem requerer apoio adicional, aos estudantes e aos familiares. Cabe destacar a importância de envolver toda a comunidade escolar no plano de ajuste a estas questões: incluir as opiniões e perceções dos diferentes membros, especialmente dos mais vulneráveis; identificar e desenvolver respostas que sejam inovadoras e flexíveis às realidades locais e que possibilitem a integração social e reforçar as potencialidades da própria comunidade para melhorar a saúde mental e o bem-estar coletivo e apoiar os/as estudantes que tiveram mais obstáculos para acompanhar o processo de construção do conhecimento.
Para algumas crianças e jovens, o distanciamento social foi, particularmente, desafiador em termos de envolvimento com a aprendizagem virtual, incluindo aqueles sem acesso a tecnologias digitais e espaço físico para fazer trabalhos escolares, ou estudantes com necessidades educativas especiais. Assim, será necessário também ações específicas para esses grupos, que envolvam intervenções multidisciplinares.
Assim sendo e tendo em atenção estas considerações que pensei serem de interesse geral, resta-me desejar a TODOS UM FELIZ REGRESSO À ESCOLA!!!!

22/09/2021
 

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