João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
E AÍ TEMOS ANUNCIADO PELO PRESIDENTE MARCELO o que já há muito estava pré-anunciado. Que o chumbo do Orçamento de Estado significaria a dissolução da Assembleia e a convocação de novas eleições. Claramente que os dois principais partidos à esquerda do PS não foram sensíveis aos avisos presidenciais e, pela primeira vez na nossa vida democrática, chumbou um orçamento, um chumbo que, mesmo que o PCP e o BE o neguem, teve aqui o significado e o mesmo resultado de uma moção de censura, com uma coligação negativa que, essa, já não é novidade no Parlamento. Não sabemos, como já lemos, se os comunistas só pretendiam esticar a corda para obter o máximo de ganhos no Orçamento. Mas se tal foi, e não acreditamos, tiveram um erro colossal de análise, e a corda partiu mesmo. Agora, os companheiros da geringonça atacam António Costa, acusando-o de ter sido ele que não desejou o acordo porque o primeiro ministro quereria mesmo é a maioria absoluta, desejo que parece hoje ser crime de lesa democracia. Curiosamente, o legítimo desejo várias vezes assumido por Paulo Rangel, de ter maioria absoluta nas eleições de janeiro não é da mesma forma negativamente valorado pela generalidade dos comentadores. De qualquer forma, mesmo que seja quase irrealista pensar em maiorias absolutas, o importante seria que na noite de 30 de janeiro tivéssemos a perceção de que o ato eleitoral serviu para construir um governo razoavelmente estável, para durar toda uma legislatura. Será também o desejo de Marcelo Rebelo de Sousa, que na sua comunicação ao país lembrou mais uma vez que os portugueses, como revelam todas as sondagens, não desejavam esta crise política, não compreendendo os motivos da rejeição do Orçamento, no momento em que o país está a sair de uma enorme crise económica, a sair de uma pandemia que, de fato, parece ainda longe de terminada. Sugeriu alguma irresponsabilidade dos partidos, lembrando o período do governação de Guterres em que sendo ele líder da oposição, pela abstenção deixou passar o Orçamento de governo socialista minoritário, Orçamento que lhe oferecia muitas objeções mas que viabilizou por razões de estado e de interesse do país. Seria um recado para o PSD? Que por estes dias parece estar mais preocupado com as suas lutas internas entre um Paulo Rangel que tem as estruturas do partido do seu lado e um Rui Rio com sondagens simpáticas que sugerem a sua superioridade em qualidades de caráter e competências.