Edição nº 1715 - 10 de novembro de 2021

José Dias Pires
O PRESENTE E O FUTURO DAS PRÁTICAS MUSEOLÓGICAS (POR AÍ E POR AQUI)

O presente de um bom número dos espaços museológicos que nos rodeiam faz-nos perceber que os espaços coletivos de memórias depositadas (quantas vezes sem ligação ou coerência cultural e sociológica com a história comunitária) os transformam em mostruários estáticos de criatividades desenraizadas, onde desaguam projetos (muitos deles interessantes) mas desacompanhados de uma sustentabilidade evidente e de um contínuo justificador.
Depois, de forma temporária ou, por vezes, permanente, são empurrados para uma existência arquivada de banais incongruências comunitárias.
O futuro dos espaços museológicos está na identificação compreensiva dos locais onde podemos encontrá-los por forma a que connosco estabeleçam (e com eles possamos estabelecer) compromissos comunitários dinâmicos que sejam geradores de uma “escola do olhar”. Refiro-me ao olhar completo: um estar perante a memória na plenitude potenciada pelo recurso ao ver, tocar, cheirar, sentir e respirar.
A nossa convivência com os espaços museológicos devia ser (e já não é ou nunca foi) uma prática educada de aquisição e transmissão de memórias efusivas enquadradas por projetos pedagógicos de educação comunitária (necessariamente escolar, mas também associativa e institucional), pois só ama quem compreende, só compreende quem conhece e só conhece quem aprende e apreende.
Não há volta a dar: ter espaços museológicos e disponibilizá-los (com critério, efetividade sustentada e afetividade perene), implica saber que lidamos com memórias geradoras de futuro e inovações sustentadas e geradoras de memória.
Os diversos espaços museológicos comunitários (por aí e por aqui) não podem satisfazer-se em ser apenas teias de diferentes repositórios estáticos. Obrigam-se a ser instrumentos de cidadania, englobados num projeto cultural claro, evidente, efetivo, sustentado e dinamizador de programas de educação cultural do olhar a que antes me referi.
Este processo é primordial e clarificador.
A existência de uma rede museológica comunitária depende, não da vontade tranquilizada de quem se satisfez com a sua designação, mas antes de uma conjunção real de sequências sistemáticas e aglutinadoras e de continuidades determinadoras de percursos museológicos que apresentem de forma verdadeiramente significativa a(s) memória(s) histórica(s) da comunidade.
Pensemos em aqui e reparemos para os diferentes espaços museológicos da nossa comunidade: Museus Francisco Tavares Proença Júnior; Cargaleiro; Seda; Têxteis; Centro de Cultura Contemporânea; Casa da Memória da Presença Judaica; Centro de Interpretação do Bordado de Castelo Branco; Núcleo Etnográfico da Lousa; Centro de Interpretação Casa do Rossio; Espaços de Arte Sacra da Santa Casa da Misericórdia de Castelo Branco e de S. Vicente da Beira, Espólio Etnográfico do Can-cioneiro de Castelo Branco, entre muitos outros ainda por conhecer, descobrir ou potenciar.
Conjugados com o património urbano (recantos arqueológicos; igrejas e capelas, portados, jardins e fontes), potenciam uma rede museológica. Contudo, ainda a não são enquanto não houver (visível, programado e disponibilizado), um roteiro integrado, interativo e mutuamente enriquecido e enriquecedor.
Uma rede museológica não se sustenta sem pessoas (influenciadores, como hoje se diz) que pelo seu amor (conhecimento ou vontade de conhecer) à memória comunitária possam contribuir, em regime de voluntariado, para a integração, interação e enriquecimento de todos os que contactarem os nossos espaços, na nossa rede museológica.
Perguntemos à Sociedade de Amigos do Museu de Francisco Tavares Proença como (e se) isso é possível.
Tenho a certeza que nos dirão que sim.

10/11/2021
 

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