João Belém
O PODER DA PROSÓDIA
As palavras... não chegarão nunca a enunciar essa coisa estranha,
rara e misteriosa que é um sentimento.
José Saramago
Prosódia (do grego ðñïó?äßá, transl. prosodía, composto de ðñïó, pros-, “verso”, e ?äÞ, odé, “canto”) é a parte da linguística que estuda a entoação, o ritmo, o acento (intensidade, altura, duração) da linguagem falada e demais atributos na fala que influenciam o fluxo da oralidade.
As primeiras definições surgiram na Grécia durante a república de Platão e partiam da observação das variações melódicas presentes no discurso. Estas variações são importantes para compreendermos melhor a comunicação humana e as intenções de cada falante, já que o modo como nos expressamos, a entonação e o ritmo presente em cada palavra auxiliam na produção de sentido quando comunicamos.
É mais uma dimensão da linguagem verbal que enriquece a sua expressão, que somos capazes de controlar de forma consciente, e que inclui a entoação, a intensidade e a duração do discurso.
A primeira engloba aspetos relacionados com a frequência e o tom de voz.
Não é a mesma coisa dizer “Chegaste tarde? “ e “Chegaste tarde! “.
A diferença entre uma e outra é determinada pela intenção da frase: uma pergunta ou uma exclamação.
A intensidade da voz é a energia e a força com que pronunciamos as palavras, a sua sonoridade. A ênfase é um dos elementos da prosódia sobre os quais podemos incidir voluntariamente.
Por último a duração refere-se à extensão e ao ritmo dos enunciados e ao uso do tempo, que também inclui as pausas durante o discurso.
Com efeito, numa conversa, as pausas fornecem muita informação. Os silêncios que fazemos através delas, equivalentes aos sinais de pontuação da linguagem escrita, ajudam-nos a pontuar as frases na oralidade. Por exemplo, no final de uma frase fazemos uma pausa (ponto final sem parágrafo), e também depois de cada elemento de uma enumeração (virgula) ou quando terminamos a nossa intervenção (ponto final).
Porém as pausas são muito mais do que isto e podem tornar-se um elemento central da linguagem oral: há silêncios com carga semântica.
O ritmo e a velocidade do discurso também fornecem informação não verbal. Quando alguém está nervoso por ter de fazer uma apresentação oral, normalmente fala mais depressa do que o habitual. A velocidade da fala aumenta em estados emocionais de medo, ira e felicidade. Inversamente, o ritmo diminui quando nos sentimos aborrecidos, tristes, chateados ou muito cansados e precisamos de repousar.
O ouvinte descodifica toda esta informação com grande rapidez, numa questão de milissegundos, e é contagiado pela prosódia do seu interlocutor até certo ponto. Como já vimos, nas interações sociais, as pessoas exercem influência sobre o comportamento dos outros. A expansão emocional também afeta a entoação, a intensidade e a duração do discurso, e a interpretação destas tonalidades é fundamental para compreender a globalidade da mensagem.
Concluindo - Imagine se todos nós falássemos exatamente da mesma maneira, sem conferir contornos melódicos às nossas palavras, sem pausas, sem ritmo, sem emoção. Imaginou? Estranho, não?
Seria como se estivéssemos, o tempo todo, lendo bulas de remédio. Como seríamos compreendidos, na totalidade daquilo que queremos dizer, pelos nossos interlocutores? Então, graças à prosódia, não falamos como robôs, pois conseguimos imprimir sentimentos à nossa fala.
A prosódia é música para os nossos ouvidos!