João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
E AO FIM DE UNS LONGUÍSSIMOS DOIS MESES, temos aí o novo parlamento eleito e o novo governo finalmente pronto a prestar provas de competência, sem desculpa de condicionantes políticas. A política está de regresso… Não vamos fazer como alguns observadores que, ainda o governo nem tomou posse e já vai distribuindo epítetos pelos novos ministros, alguns dos quais nunca até agora tiveram oportunidade de mostrar as suas competências na governação. Uma das críticas é a de que é um governo de Lisboa. Partindo do princípio de que governará para todos, do norte ao sul, ilhas e também para a diáspora, este fator geográfico não nos parece especialmente limitativo. Mantém-se a agora deputada pelo nosso Distrito, Ana Abrunhosa, na pasta da Coesão Territorial, uma área que nunca poderia ser bem compreendida por um lisboeta de gema. Registo a permanência de Marta Temido, uma das personalidades justamente mais populares do anterior governo; como registo que Mariana Vieira da Silva é confirmada como a segunda figura do governo, uma verdadeira superministra; registo a presença da prestigiada cientista Elvira Fortunato que tem a coragem de suspender a sua carreira cientifica para se envolver na política da Ciência e do Ensino Superior; registo que pela primeira vez em Portugal vamos ter uma mulher na pasta da Defesa, Helena Carreiras que tem todas as condições para vir a ser uma ministra competente, e reconhecida como tal também pela hierarquia das Forças Armadas, em tempos difíceis de ambiente de guerra; registo a escolha de Pedro Adão e Silva, uma das personalidades públicas de pensamento mais bem estruturado e perfeitamente habilitado para fazer um excelente lugar na Cultura; finalmente anote-se que este é o governo mais paritário de sempre em Portugal, pelo que me atrevo a dizer ser esta a maior garantia de sucesso da nova equipa.
HÁ JÁ MUITO TEMPO, demasiado tempo, que não se sente a presença do principal partido da oposição na praça pública. Dir-se-á que no contexto de mudança de liderança é natural, mas não teria sido melhor para o partido ter aproveitado este intervalo de meses para por a casa em ordem e apresentar-se no início de um novo ciclo com um novo e remoçado líder? Mas a estratégia de Rui Rio foi diferente e a clarificação só vai acontecer lá mais pelo verão, quando a canícula faz apetecer a praia. Entretanto, de derrota em derrota, Rui Rio vai fazendo o seu caminho. Foi humilhante o resultado da repetição da votação pelo círculo da Europa, uma repetição que resultou da iniciativa do PSD ter contestado (legitimamente) a primeira votação e, quando Rui Rio pedia castigo nas urnas para o PS, a resposta que os emigrantes lhe deram foi a de retirar pelo voto o deputado social democrata que tinha sido eleito em janeiro. Nestas circunstâncias, Marcelo Rebelo de Sousa parece sentir-se na obrigação de fazer ele mesmo de oposição. E fá-lo mostrando, por exemplo, uma pública e sonora irritação por ter sabido do novo elenco governamental pela comunicação social, como se fosse esta a primeira vez que houve fuga de informação. E ao mesmo tempo que dizia não querer comentar as escolhas de António Costa, ia avançando com comentários vários, nomeadamente sobre os poderes atribuídos a Mariana Vieira da Silva. E foi lapidar dizendo que se fosse ele o primeiro-ministro, esta equipa não seria a sua escolha. Não foi simpático, mas a sinceridade também é uma virtude...