João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
AINDA HÁ QUINZE DIAS, a propósito do ataque de ódio racista num supermercado aqui se refletia sobre as contradições vividas na sociedade americana. Há quinze dias escrevia-se aqui sobre a tragédia provocada por um supremacista branco de 18 anos, seguidor de Trump, e de como haveria uma quase certeza de que o drama se haveria de repetir. Infelizmente mais depressa do que imaginávamos. Hoje regista-se aqui um novo episódio de violência extrema. De novo o alvo foram crianças indefesas de uma escola, 19 crianças e dois professores. E mais uma vez o assassino foi um jovem de 18 anos. Uma tragédia americana como titulava o jornalista Sena Santos na sua incontornável cronica diária da Antena 1. Uma tragédia americana de que não se vê o fim. Desta vez não foi um supremacista, mas um jovem obviamente desequilibrado que atirou na avó, por ela não lhe dar o dinheiro que ele queria para comprar roupa de marca, antes de se dirigir para a escola onde deixou um rasto de mortes e feridos até ser abatido. Diz a mãe, ainda em estado de choque, que o seu filho era um miúdo calmo, um bom rapaz. E esta mãe não se perguntou porque razão o seu filho logo que fez 18 anos correu a comprar duas armas semiautomáticas capazes de disparar 8 tiros num segundo? Uma arma fácil de usar (com tudo o que isto significa) e muito popular na América, de tal modo que até é denominada de espingarda americana, usada tantas vezes em massacres que Clinton proibiu a sua comercialização. Depois de a proibição ter caducado, voltou a ser comercializada com os resultados que se têm visto. Uma tragédia americana que muita gente, incluindo Biden, sabe como se deveria enfrentar. Num país onde uma mulher pode ser condenada a dez anos de prisão por prática de aborto, onde para proteção da saúde das crianças e jovens, só se pode comprar tabaco aos 21 anos e estão proibidos os ovos Kinder, qualquer jovem de 18 anos pode entrar numa loja de armas e sair de lá com uma arma de guerra a tiracolo. Com a qual por motivos ideológicos ou por estar de mal com o mundo, pode entrar numa escola e atirar matar sobre crianças ou jovens que não podem comer ovos Kinder ou comprar tabaco para defesa da sua saúde. A solução para esta tragédia americana dizem tê-la os congressistas republicanos e o seu chefe de fila Trump, principais beneficiários do poderoso lobby das armas. Armar ainda mais os cidadãos para que se possam defender, num país onde para 300 milhões de habitantes já circulam mais de 400 milhões de armas. Para eles a solução é armar os professores. Toda uma tragédia americana que não sabemos se algum dia terá solução. Porque a violência é tanto a marca da América, como o é a tarte de maçã.
ESTE FIM DE SEMANA, o PSD finalmente ganhou uma nova liderança que substitui um Rui Rio que já estava a prazo, com todas as consequências negativas que isso traz. Nestas circunstâncias, é importante dizer que tal como é importante para o País ter um governo que governe bem, também é importante ter uma oposição que seja firme, atenta, crítica mas construtiva. É isso que se espera do PSD sob liderança de Luís Montenegro. Ele não vai ter vida fácil, mas o PSD vai ter que voltar a ocupar o espaço que lhe foi roubado pelos novos partidos emergentes de direita.