João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
POR ESTES DIAS tem estado na ordem do dia, a reação da embaixada Russa ao espetáculo que Pedro Abrunhosa deu em Águeda. Adaptou a sua conhecida canção Talvez F**** numa forma de manifesto contra a guerra e contra Putin. A embaixada russa, por distração talvez, esqueceu-se de que estava instalada num país democrático e europeu, onde a liberdade de expressão e de crítica é um dos pilares fundamentais da democracia. E assim, não se limitou a protestar, um ato legítimo à luz dos nossos valores, mas ultrapassou o admissível e ameaçou mesmo o cantor. Criticou por ter incentivado “em êxtase os espetadores, entre os quais os russos que também pagaram os bilhetes, que repetissem o que estava a gritar, tendo no final expressado o desejo que as palavras dele fossem ouvidas em Moscovo”. Era um espetáculo de acesso gratuito, por isso os russos presentes no recinto podiam simplesmente retirar-se, sem chorar o dinheiro gasto no bilhete. As palavras do comunicado são claramente intimidatórias e o governo tomou desde logo posição, considerando que o comunicado era simplesmente intolerável. Pensávamos nós que este seria um assunto consensual. Mas para surpresa de muita gente, também nesta situação temos do outro lado da barricada, todos aqueles que parecem defender Putin e toda a narrativa que ele apregoa para justificar a agressão militar à Ucrânia. Estranhamente, desvalorizam agora as qualidades artísticas de Pedro Abrunhosa, que passou a ser um cantor sem voz e criador medíocre que não representa neste conflito todos os portugueses. Isso é o que nós constatámos, já que há quem consiga justificar a reação de um embaixador que desprezou a liberdade de expressão e de crítica, princípios que estes mesmos, também no campo ideológico, tão fervorosamente e bem, defendem.
AS FÉRIAS. As férias para todos. As férias a que temos direito. Para as novas gerações as férias são um dado adquirido, sempre terão existido por um direito natural. Mas o direito de quem trabalha a ter férias só foi uma conquista no século XX, com a OIT (Organização Internacional do Trabalho) a declarar esse direito dos trabalhadores em 1936. Em Por-tugal, vertida em lei no ano seguinte, mas apenas para uma pequeníssima minoria a ter direito a oito dias de descanso. No pós guerra, em grande parte da Europa começa a massificar-se o acesso às férias, ainda que apenas restrito a uma nova burguesia. Muito bom o retrato que faz Jacques Tati no seu filme de 1953, As Férias do sr. Hulot. Nos anos sessenta, chegado o agosto, já víamos as nossas aldeias ganharem animação e novas cores com as vacanças dos emigrantes que todos os anos voltavam em boa voiture, alugada ou própria. Em Portugal, só depois de 74 este fenómeno é mais consistente, também consequência do abandono dos campos. Hoje não basta ter férias e ficar na sua comunidade a descansar. É preciso sair e procurar novos ares e, quase sempre, a brisa do mar. As férias dos portugueses e dos estrangeiros que aqui buscam o sol, a praia, a gastronomia e a segurança, alimentam uma indústria do lazer, um setor que é, como todos sabemos, o motor da nossa economia. E só posso desejar aos nossos leitores e assinantes boas e retemperadoras férias, na comunidade onde tanta animação acontece por estes dias, no campo ou na praia. Por nós, estaremos de regresso 17 de agosto.