João Belém
O CICLONE DIGITAL
No mundo das tecnologias, o papel do professor será mais valorizado, como formador na ética e na cidadania, o que nenhuma máquina pode fazer.
Andrea Ramal
A poderosa e fascinante instrumentação do mundo digital está em progresso contínuo e é de tal forma invasiva, sobretudo no mundo dos jovens, que ocupa os seus interesses e o seu tempo a ponto de os distrair da educação escolar tradicional.
Porque é que o jovem se sente tão atraído pelo seu smartphone ou por aparelhos semelhantes? A minha resposta é que o interesse de todos - e particularmente dos mais jovens pelo mundo digital depende do facto de parecer um brinquedo, um brinquedo novo, divertido, fascinante, que representa o futuro e é visto como superior a um ensino talvez ultrapassado, no conteúdo e nos métodos, e considerado atrasado relativamente à velocidade e às necessidades dos tempos modernos, sobretudo em vista da inserção na sociedade e no mundo do trabalho.
Michel de Montaigne (1533-1592) escrevia que o jovem não é um vaso para encher (de noções), mas um fogo para atiçar de entusiasmo, e o entusiasmo é parente próximo do divertimento, da satisfação e da consciência de receber uma educação viva, vista como interessante e necessária para o próprio crescimento.
É por isso que é muito importante que a escolha dos conteúdos e do método didático mantenha elevado o interesse, que é a base da aprendizagem, e o entusiasmo, que é típico dos jovens.
Em muitas escolas europeias, debate-se a utilização em âmbito escolar do método e dos instrumentos do mundo digital, tão atraentes, além de familiares, para os jovens.
Muitos são contra o facto de os alunos poderem levar para a escola os seus aparelhos, que, às escondidas ou até à mostra, são usados durante as aulas criando obstáculos ou, pelo menos, distraindo dos temas formativos e cognitivos da escola, necessários para a iniciação à vida social e profissional.
A «lição digital», que seria mais oportuno designar «Laboratório digital», já que se serve de instrumentos, como acontece num laboratório científico, deveria ser dada com instrumentos fornecidos pela escola. Cada turma deveria ser dotada de instrumentação adequada - smartphone, tablet, computador, etc. - mas com a comunicação com o exterior desativada.
A escola, para aspirar a ser uma boa escola e preparar um futuro melhor para o país, deve ser, antes de mais, séria, exigente, cuidada em todos os seus aspetos e dotada de recursos financeiros para o seu funcionamento.
Uma cultura em movimento, como a dos nossos dias, exige professores continuamente atualizados e motivados no desempenho das suas funções, tanto do ponto de vista financeiro como social. No fundo, o professor é como um médico, só que trata da saúde intelectual e não da saúde física. Um médico que não tem a confiança e o respeito do paciente corre o risco de não ser bom médico: para o professor, os pacientes são os alunos e os seus pais, frequentemente alinhados numa proteção demasiado amorosa dos seus filhos.