José Dias Pires
É DIFÍCIL O EXERCÍCIO DA CIDADANIA COMPLETA
Será que todos temos consciência que é cada vez mais importante sermos cidadãos sem nos restringirmos a ser apenas indivíduos?
As pessoas que têm consciência do que são e do que fazem, só são verdadeiramente cidadãos quando participarem na vida da sua comunidade.
Hoje, com a proliferação das redes sociais e das potenciais máscaras que permitem a muitos esconder-se através delas, escudados por convencimentos que não fundamentam, e sem se sentirem obrigados a demonstrar que estão empenhadamente implicados na vida comunitária, o conceito de exercício da cidadania tende a banalizar-se e a ser almofada para feiras de vaidades ou estratégias pessoais de quem se quer tornar evidente aos olhos dos que gostam do opinar aparentemente alternativo mas profundamente oportunista.
O termo cidadania tem origem na palavra «cidade» que a todos nós respeita, tal como já acontecia na Grécia antiga que a designava por «polis». É desta palavra que nasce a «política», sem que Política e Cidadania sejam a mesma coisa, embora se completem.
Na verdade, ser cidadão implica o conhecimento dos direitos e os deveres que a cada um de nós respeitam, assim como a capacidade de orientar a conduta pessoal e social de acordo com o conjunto de princípios e de valores que lhes estão associados.
O exercício da cidadania implica, natural e obrigatoriamente, fazer política, o mesmo é dizer potenciar a capacitação de cada indivíduo na criação de diretrizes que ajudem a objetivar e organizar o seu modo de vida, através da tomada de posições públicas de forma organizada sobre as questões que se relacionam com os direitos que lhe assistem sem esquecer os deveres que lhe são correspondentes.
O exercício da cidadania, ao representar a conjunção dos direitos e deveres dos cidadãos, implica práticas comunitárias efetivas e despidas de interesses ou privilégios pessoais e enquadradas em estruturas associativas ou institucionais.
O exercício da cidadania será tão determinante para a transformação quanto mais completo for.
O que é, pois, a cidadania completa?
É estar atentos, e críticos, aos grandes problemas do mundo e aos pequenos problemas do quotidiano.
É contribuir, à medida de cada um, para a sua resolução, sobretudo, dos problemas quotidianos das nossas comunidades.
É contribuir para a qualidade do espaço público enquanto local onde confluem os direitos e as obrigações dos cidadãos.
É compreender que as grandes obrigações que determinam o comportamento comunitário são o respeito por quem nos rodeia, sobretudo os mais frágeis.
É ser efetivamente atuante (participar) na melhoria da qualidade de vida da nossa comunidade, especialmente dos cidadãos mais vulneráveis.
O exercício de uma cidadania completa determina que saibamos reconhecer que não há sociedades ideais, o que acarreta a exigência e a participação efetiva na construção de vivências comunitárias que não institucionalizem os seus cidadãos e permitam a auto-organização individual e coletiva geradoras de uma sociedade em que os mais idosos e os mais vulneráveis sejam os únicos cidadãos privilegiados.
Criticar é muito importante, fundamentar imprescindível, mas agir, participar e ser transformador no terreno é verdadeiramente determinante.
Será que todos temos consciência que é cada vez mais importante sermos cidadãos sem nos restringirmos a ser apenas indivíduos?