João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
O MUNDO ESTÁ PERIGOSO, mas isso não impede que ainda haja momentos onde o otimismo vence a negritude das perspetivas sociais e políticas vivenciada em variados espaços. Otimismo de que a democracia vença sobre o populismo extremista de direita. Mesmo que a derrota dos seus líderes não signifique o fim destes movimentos que, sem nos estendermos sobre as suas características ideológicas, têm a democracia em pouca estima, ou a consideram mesmo a mãe de todos os males. Foi isso que aconteceu em duas eleições de caráter capital. Nos Estados Unidos da América onde as eleições intercalares que tipicamente arrasam o partido que detém a presidência. Desta vez previa-se um verdadeiro tsunami que arrastaria nas ondas o partido Democrático. De tal forma que Trump voltou a palco com a arrogância e desfaçatez habituais, lançando candidatos alguns mais trumpistas que o próprio Trump. Tanta certeza daquilo que iria acontecer, que anunciou, impante, uma comunicação muito, muito importante para poucos dias depois das eleições. Só que a maioria dos jovens e mulheres americanos fizeram-nos acreditar que os valores democráticos ainda têm muita força por aqueles lados e disseram um rotundo não aos ideais de extrema-direita antidemocrática personalizados pelo ex-presidente. E a afirmação da candidatura à presidência para daqui por dois anos transformou-se num ato patético. Pois o que parecia ser um seguro de vida para os republicanos, passou a ser um produto tóxico. E foi o Brasil com a derrota de Bolsonaro, mesmo que por poucos milhões de votos, também ele líder de uma extrema-direita que não renega o golpe militar para reverter o resultado das eleições. A vitória de Lula da Silva fez suspirar de alívio o mundo democrático, na certeza de que Lula da Silva vai fazer regressar o Brasil à comunidade internacional e aos grandes debates mundiais. E um deles que interessa a todos os cidadãos é o da proteção da Amazónia, pulmão do Mundo, que um desclassificado presidente desconsiderou e pôs em perigo, ao entregá-la aos interesses do agronegócio. Agora será importante refletirmos sobre o que nos conduziu a duas personagens como estas e que antídoto social teremos de criar, para que o ataque à democracia não se repita.
FORAM NO FINAL DA PASSADA SEMANA lembrados os 90 anos do Holodomor, assim foi chamado o período em que Estaline levou a cabo a operação de confiscação da produção agrícola na Ucrânia, lançando na fome e na morte quatro milhões de ucranianos, aos negacionistas pode-se contrapor os testemunhos de sobreviventes. Ou ler o livro Fome Vermelha, resultado do trabalho de investigação da reputada historiadora inglesa Anne Applebaum. Há quem encontre semelhanças com a prática atual de Putin, ao definir como estratégico o ataque às infraestruturas de energia, água e comunicações, que poderá provocar muito sofrimento e morte aos civis ucranianos (mas as crianças, Senhor, porque padecem assim?). Mas na certeza de que não trará as mesmas consequências até porque os ucranianos com ajuda dos países aliados têm mostrado boa eficácia na reparação dos estragos...