CULTURA
Já leram a poesia das mulheres-poetas dos séculos XVIII, XIX e XX
A Real Associação da Beira Interior, com o apoio da Câmara de Castelo Branco, dinamiza, no próximo sábado, 26 de novembro, a partir das 15 horas, na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, a palestra Já leram a poesia das mulheres-poetas dos séculos XVIII, XIX e XX, que tem como orador António Salvado.
A palestra é dedicada a Catarina de Lencastre, Leonor Almeida (a Marquesa de Alorna) e Francisca de Paula Possolo, sendo que as três autoras, analisadas por António Salvado, apresentam em comum o facto de representarem, na história da poesia portuguesa, uma acentuada viragem, bem patente naquilo que escrevera, do classicismo para o romantismo, e dão que os compêndios as chamam de pré-românticas.
Catarina de Lencastre (1749-1824), ótima representante das “luzes da razão” (a novidade maior que atravessava, ideologicamente o Século XVIII) a este idiário se manteve fiel, e algumas das suas poesias celebram figuras (alguns mártires em luta pelas liberdades) fundamentais na tentativa de se passar do absolutismo obsoleto para o liberalismo em Portugal. Não só em Portugal, mas também no estrangeiro europeu (o marido era diplomata, tomou contacto com autores dos quais a obra era chamada como romântica). Diversas temáticas definem a sua obra poética, como o amor, o sentimento a razão, a exaltação patriótica, entre outras.
Leonor de Almeida, a futura Marquesa de Alorna (1750-1839), conheceu o retiro forçado no Mosteiro de Chelas pelo facto de, após o atentado contra o Rei Dom José I, Marques de Pombal considerar toda a família dos Távoras (o que levam Leonor) culpada por tal facto. Após a morte de Pombal, ganhou (ela e sua mãe) a liberdade e itinerar da sua vista, revestir-se-ia de características, de acontecimentos, de acasos surpreendentes. Em Portugal, e ainda na prisão, fora-lhe permitido receber poetas de renome do seu tempo (Pilinto Elísio, por exemplo que deu o pseudónimo de Alcipe, nome de uma academia, a Arcádia Lusitânia). Desde muito jovem adquiriu conhecimentos não só sobre a arte de poetar, mas também conhecimento artificial e científico. Casada com um oficial prussiano (em Portugal por motivo militar e nobre como ela) viaja com o marido para Viena e aí adquire informações sobre as novas correntes românticas, informações essas da mesma natureza que se haveriam de completar mais tarde, que não, após a morte do marido, se deslocou para Londres. Regressada a Portugal, acolheu novos talentos (Herculano que lhe devotaria perpétuo afeto). Exemplo da transição do classismo para o romantismo, a poesia de Leonor de Almeida, aglutinou elementos dos clássicos grego e latim, com os poetas do cristianismo, e de muito das literaturas europeias do seu tempo. Com vida tão cheia de peripécia (alguma bem triste), é natural que a sua poesia espalhe, experiências e sentimentos da sua dolorosa vida.
Francisca de Paula Possolo (1783-1828), novelista, dramaturga, poeta tradutora (traduziu para português o Corine, de Mme de Stael, livro que tenta influenciar os poetas dos séculos XVIII e XIX). Foi amiga íntima da Marquesa de Alorna. Mereceu largos encómios de jovens poetas do seu tempo. Pré-românticos, a sua poesia reflete com a maior clareza o seu apego às novas ideias liberais, divulgando, ao ler poemas em teatros e salões, Francisca, pastora do Tejo (Francisca era o seu nome arcádio), emprega o título do conjunto dos seus poemas (sonetos, canções, odes, elogios), poesia que desenvolve, com vigor, os grandes temas do amor, exprime, com expressividade o mais intimo confidencialíssimo sentimental. Curiosos que, em simultâneo, com os laivos pré-românticos da sua poesia, está patenteada também acordos que fazem parte daquilo que os historiadores da literatura designam por ultrarromântico: Aves de Agouro… Mas, o que devemos reter desta poesia é a ausência de recortes de teatralidade e o facto dessa poesia anunciar coordenadas do melhor que o momento haverá de desenvolver.