João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
AO FIM DE UMA SEMANA, já se pode fazer um breve balanço do início do ano escolar, que todos os anos serve de avaliação da equipa que dirige o Ministério da Educação. E como tem acontecido nos anos mais recentes, mais uma vez os holofotes da opinião pública assentaram sobre um facto que não pode ser escamoteado de qualquer forma: a falta de professores. Este ano foram cerca de dois mil horários que ficaram por atribuir. É um problema que entra pelas casas de muitos portugueses e que por isso também preocupa a equipa do ministro João Costa. E é um problema que não surgindo de surpresa, que já há muitos meses se sabia iria acontecer, pelo que os responsáveis pela política educativa deveriam ter sido mais previdentes, com uma atuação atempada. Não deveria ser o início do ano letivo, o momento em que se apresentam as soluções, algumas que, a serem implementadas, constituem uma verdadeira mudança estrutural no processo de colocação de professores. Só agora se vão iniciar as negociações com os sindicatos que se preveem demoradas, e enquanto isso, para minorar o problema, o Ministério da Educação vai dotando as escolas de autonomia na contratação de docentes, de uma forma como nunca até agora vista. Há pouco mais de duas décadas, as aberturas dos telejornais e as páginas dos jornais ocupavam-se com o drama anual dos professores que ficavam por colocar e que no dia seguinte à saída dos resultados das colocações, faziam fila à porta dos Centros de Emprego e geravam manifestações à porta do Ministério. O excesso de procura, e a fraca oferta de emprego (a forte queda da taxa de natalidade tinha consequências ), seguindo a lei de mercado, levou que as instituições de ensino superior, como o nosso Politécnico acabassem por encerrar cursos vocacionados para a formação de professores. Eu tive alunos que, conformados, afirmavam andar a tirar um curso superior, que implicava muitas despesas aos pais, para serem futuros caixas de supermercado. Este era o panorama há duas décadas. Agora é o que se conhece. Pelo meio, e apesar da contínua diminuição do número de alunos, viu-se um corpo docente cada vez mais envelhecido, a contar os meses para a reforma, e sem novos candidatos a incorporar uma profissão entretanto socialmente desvalorizada e economicamente desinteressante. Desinteressante não por comparação a outras carreiras da função pública no valor do vencimento base, mas porque os novos professores sabiam que os esperavam anos, muitos, afastados da família, com a casa às costas, quantas vezes em horários incompletos, sem terem a estabilidade que os ajudaria a conhecer melhor os seus alunos, a integrarem-se de forma mais ativa na comunidade, enfim, a serem melhores professores. Agora será uma corrida contra o tempo, sabendo-se que se nada se fizer, cada ano a situação piorará até se chegar a um ponto que a qualidade da escola pública se tornará insustentável.