Antonieta Garcia
GOLO! GOLO! GOLO! GOOLO! GOOOLO.... GOLO, GOLO, GOLO....
Vamos aplaudir, a apregoar Portugal, porque, desta feita, os astros hão de conjugar-se para que experimentemos novas glórias e a importância de jogar com garbo. Os quartos de final já ninguém nos tira.... Gooolo!
É inevitável, porém, no atual contexto, não participar no mais que badalado Campeonato Mundial de Futebol. Somam-se tantas e tais notícias nos media, que até pessoas leigas dos quatro costados nesta área, acabam enroladas pelo dito desporto. Por amor de peito? Por certo, no que me diz respeito, não seria este o lazer que me atrairia para os seus braços. O facto de ignorar cruzamentos estranhos de pés e bolas, de fintas... não permite sequer que se aprimore a linguagem, embora deixe aos pulinhos, a habilidade dos pontapés estilo Cristiano Ronaldo. Todavia, a comunhão do moço com os desportistas, a determinação com que enfrenta balizas e adversários, o prazer de dizer o que pensa... desafiam a que inacreditáveis malabarismos da bola e outras recreações nos prendam.
Acrescente-se que o futebol é o desporto rei dos portugueses, capaz de amaciar corações lusos a bater em uníssono com claques vindas de vários países a apoiar os “nossos” futebolistas, que identificam com ânimo:
- Golo! Golo! Golo! Ronaldo, Portugal, Pepe, João Félix, Gonçalo...
E este pobríssimo texto futebolístico transforma-se numa sinfonia clássica com maior ou menor rococó na coreografia dos onze com uma bola...
Porquê este amor a um jogo de pés e mãos, e cabeças, saltos e empurrões malandros, acompanhados por palavras e palavrões que, às vezes, fazem corar a mais desinibida das criaturas?
Deus me livre de introduzir neste excerto a questão da prática e visibilidade do futebol feminino, dos ordenados comparados, dos direitos e da ausência deles, em pleno século XXI tentando esquecer o psicodrama dos 36/37 anos do capitão da seleção. Não adiantava nada! O arrazoado era chutado para canto com as inconveniências de esquecer a relação íntima com a nossa região, de desportistas de primeira água, que sempre os houve. Nascidos na Beira, falam o fado que é nascer no Interior, quanto basta para desmemoriar quaisquer vitórias. Somos poucos, poucos votos...
- Ronaldo! Ronaldo! Eusébio, Fernando Gomes... e mais uma mancheia de jogadores enchem de orgulho atletas e amadores da bola.
E tudo começou com Januário Barreto.
Uma biografia breve: Nascido em Aldeia do Souto, concelho da Covilhã, a 7 de Abril de 1877, ficou órfão muito cedo. Por intervenção dos padrinhos, será admitido na Real Casa Pia de Lisboa, em Julho de 1886.
Aluno excelente interessa-o a Medicina, a Cultura, o Desporto. Será este beirão o introdutor do futebol na Casa Pia. Conta Santos Pinto: Atento ao fenómeno, o provedor Margiochi manda vir de Londres uma bola de couro, como as que os irmãos Pinto Basto trouxeram debaixo do braço quando vieram dos colégios ingleses, e no já histórico Pátio das Malvas, ao lado dos Claustros do não menos histórico Convento dos Jerónimos, o provedor entrega a bola a Januário Barreto. (J. Santos Pinto, in Revista da Casa Pia de Lisboa, Lisboa, Ano 9, nº 17, Junho 1996).
Se a tradicional bola de trapos o revelara jogador distinto, a oferta da bola de couro traça o início do futebol, na instituição. Em suma, em 1904, com Cosme Damião funda o Sport Lisboa, mais tarde Sport Lisboa e Benfica. A convite de José de Alvalade, há de formar-se o Sporting Clube de Portugal...
Januário Barreto foi ainda fundador e presidiu à Liga Portuguesa de Futebol. Faleceu a 23 de Junho de 1910. Aos 33 anos, vencia-o uma encefalite.
Januário Barreto, iniciador do desporto rei em Portugal, num pavilhão desportivo da Casa Pia, o médico, beirão, tem o rosto esculpido em bronze por Gil Teixeira.
Aldeia do Souto, terra natal do clínico, em 1996, consagrou-o, colocando uma escultura no Largo Dr. Januário Barreto...
Com a mulher, a médica Carolina Beatriz Ângelo, natural da Guarda, o casal deixou o seu nome ligado à Beira, ao país e à construção da I República.
Podemos esquecer-nos destes sonhadores e construtores de mundos mais fraternos? Golo! Golo...
Os deuses e os astros distraíram-se ou não se entenderam? Quem acredita que ganham os melhores?