COM ENCONTRO INTERNACIONAL
Castelo Branco dá mais um passo na candidatura à rede de Cidades Criativas da UNESCO
A Câmara de Castelo Branco organizou, de 12 a 15 de abril, no Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco (CCCCB), o I Encontro Internacional de Cidades Criativas e Desenvolvimento Sustentável, no âmbito da candidatura de Castelo Branco à Rede de Cidades Criativas da UNESCO, na categoria de Artesanato e Artes Populares, com o Bordado de Castelo Branco. Encontro que contou com a Ucrânia como país convidado, bem como participantes oriundos não só de Portugal, mas também de Espanha, França, Marrocos, Cabo Verde, Brasil e México.
Na sessão de abertura, o presidente da Câmara de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues, começou por realçar que “Castelo Branco pretende ser uma cidade criativa no âmbito das artes artesanais e concretamente com o Bordado de Castelo Branco, que é uma arte artesanal já com muitos séculos e que tem marcado muitas gerações de Albicastrenses, pelo trabalho que representa, mas também por aquilo que este Bordado é para Castelo Branco e para a nossa Região”.
Tudo, porque, realçou que “é um bordado feito com materiais nobres, a seda, o linho e, depois, utiliza o saber, a cultura, o bom senso, o bom gosto e a criatividade das nossas bordadeiras” e acrescentou que “é um trabalho que se vai desenvolvendo e que se vai readaptando de acordo com aquilo que são as novas tendências artísticas, da moda e de intervenção no espaço urbano. Temos uma cidade, como dizia há poucos dias Pedro Salvado, onde a arte está espalhada nos passeios, através da Calçada Portuguesa e da Calçada com Bordado de Castelo Branco. O Bordado de Castelo Branco também já vai marcando os prédios da nossa cidade, vai estando presente em desfiles de moda e vai sendo interpretado por artistas plásticos contemporâneos, nomeadamente por Cristina Rodrigues, que ainda não há muito tempo fez um trabalho sobre o Bordado de Castelo Branco que neste momento pauta os altares da Catedral de Manchester”.
Leopoldo Rodrigues assegurou que “este é um caminho que queremos continuar a desenvolver. Um caminho de afirmação do Bordado de Castelo Branco, mas um caminho de valorização desse mesmo Bordado”, pelo que “é nossa intenção, no futuro, envolver artistas contemporâneos, de modo a que cada um deles possa criar a partir do Bordado de Castelo Branco”.
Por outro lado, avançou que “pretendemos colocar o Bordado de Castelo Branco no mercado de luxo”, sendo que “ele já vai estando, já vai fazendo a sua intervenção, mas acreditamos que temos todas as condições e que este Bordado reúne todos requisitos para que venha a fazer parte desse mercado de luxo tão importante e que acrescenta valor, naturalmente, a esta arte artesanal que se desenvolve em Castelo Branco”.
Para Leopoldo Rodrigues a candidatura de Castelo Branco à Rede de Cidades Criativas da UNESCO “é por demais importante e é evidente aquilo que é o nosso objetivo com esta candidatura”, não escondendo que “sabemos que não estamos sozinhos nesta candidatura, que há outras cidades que se posicionam e que também apresentarão as suas candidaturas e, obviamente, respeitamos todos aqueles que, como nós, tenham a ambição de ser cidades criativas”.
Tudo para de seguida “saudar aquelas que já são Cidades Criativas da UNESCO, que estão aqui presentes e com quem contamos para nos ajudar nesta candidatura e neste caminho que estamos a desenvolver”.
O autarca reiterou que a candidatura “é de facto importante, porque se enquadra neste nosso projeto e neste nosso objetivo de dar ainda maior destaque e mais intervenção ao Bordado de Castelo Branco e àquilo que aqui se faz”.
Mas o autarca tem também preocupações e nesta matéria revelou que uma delas “tem a ver com a continuidade deste saber, do saber bordar, do saber interpretar, do saber conjugar as cores da seda com o linho onde ela vai criar arte e que carece naturalmente de formação, de acompanhamento. As bordadeiras que trabalham no Centro de Interpretação do Bordado de Castelo Branco são todas já quase bordadeiras seniores. Na cidade e no Concelho temos um conjunto de pessoas que não estão integradas no Centro de Interpretação que fazem um trabalho extraordinário, um trabalho valorização deste bordado, mas ainda assim temos a preocupação pela continuidade. Preocupação de que passadas estas gerações, que neste momento são o fundamento e a força do Bordado de Castelo Branco, não tenhamos quem siga estes passos e dê continuidade a este trabalho artesanal que tanto nos interessa, que tanto valoriza o nosso concelho. Iniciamos há puco tempo um curso de formação e será inevitável aprofundarmos conteúdos formativos e aprofundarmos áreas de intervenção nesta área do Bordado de Castelo Branco”.
Leopoldo Rodrigues recordou, por outro lado, que “não é a primeira vez que o faço e volto a dirigir-me diretor ao diretor da Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART) de Castelo Branco, e ao presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB), para a possibilidade de olharmos para o Bordado de Castelo Branco e para a sua promoção através da ESART e dos seus cursos”. Isto, porque “acredito que temos condições para o fazer, que o Bordado de Castelo Branco merece essa distinção e merece também essa inserção dentro daquilo que são os programas, os currículos e os cursos da ESART, que é uma escola tão importante para Castelo Branco”.
O autarca não deixou também de se referir ao momento musical com o Arame Ensemble, que abriu a sessão inaugural, ao destacar “a presença de um grupo musical de cordas onde está presente a Viola Beiroa, que é um produto certificado, tal como o Bordado de Castelo Branco, que se conjugam muitas vezes nestas e noutras iniciativas. O Bordado e Viola fazem parte da memória, do património e da cultura da nossa terra e pretendemos continuar a valorizá-los, a afirmá-los”, para concluir que “estamos convictos que estamos no caminho certo, que temos produto de qualidade, neste caso artesanato de qualidade, e que temos condições para afirmar este nosso projeto e para que ele seja um projeto vencedor”.
Por seu lado, o coordenador da candidatura à Rede de Cidades Criativas da UNESCO, Hélder Henriques, frisou que “a candidatura está na génese do encontro que é desafiante em si mesmo. Demorou meses a preparar, com muitos avanços e recuos, mas com determinação, porque acreditamos no caminho a percorrer”.
Hélder Henriques avançou que “Castelo Branco tem vindo a profundar o seu trabalho no contexto da Agenda 2030 e estamos comprometidos com os objetivos de desenvolvimento sustentável. Queremos um território mais inteligente, mais inclusivo e colaborativo e entendemos que a adesão à Rede de Cidades Criativas da UNESCO responde aos desígnios de uma cidade criativa, inovadora, uma cidade que se pretende coesa e inteligente como Castelo Branco pretende ser reconhecida”.
Do que não resta a menor dúvida é que “o Bordado de Castelo Branco é a nossa âncora identitária e o nosso maior argumento na adesão à Rede de Cidades Criativas da UNESCO”. Uma tarefa que “não é fácil”, porque “a Comissão Nacional da UNESCO apenas pode apoiar no máximo duas candidaturas e uma por categoria”.
Noutra perspetiva afirmou que “acreditamos que o trabalho que temos vindo a realizar tem permitido uma maior projeção do nosso Bordado, do processo de construção do Bordado, do casulo até às colchas. Temos apresentado o Bordado De Castelo Branco como uma arte ancorada na história, com valor afetivo e económico acrescentado”.
Isto a par de revelar que “esperamos também que todos os países hoje aqui estão representados possam contribuir, de algum modo, para fortalecer a candidatura de Castelo Branco”.
A sessão inaugural contou ainda com a intervenção de Luís Castro Mendes, que elogiou “a capacidade de internacionalização do local ao global revelada por Castelo Branco, ao conseguir trazer tantos representantes, tantos especialistas, tantas pessoas de grande qualidade e dos mais variados horizontes geográficos”.
Luís Castro Mendes, que é natural do Concelho de Idanha-a-Nova, destacou também que na “capital do distrito que me viu nascer assisto à abertura desta importante conferência internacional, que visa promover a candidatura de Castelo Branco a Cidade Criativa da UNESCO na área das Tradições Artesanais Populares especificamente no Bordado de Castelo Branco, essa tradição secular aqui trabalhada e desenvolvida com paixão e com muito trabalho, que deu origem às mais belas peças do bordado português, prova da grande capacidade criativa desta região”.
Perante isto sublinhou que “como antigo embaixador na UNESCO e antigo ministro da Cultura é com uma forte solidariedade pessoal sustentada por alguma experiência que venho saudar a vossa iniciativa e declarar-vos o meu total apoio, hoje circunscrito, é certo, ao meu juízo próprio, mas que me honra e alegra”.
Luís Castro Mendes defendeu ainda que “a presença de Portugal na rede de Cidades Criativas da UNESCO cresce, enriquece-se, mutuamente, com as diferentes tradições e atividades culturais que vemos as nossas cidades, por todo o País, desenvolverem com rigoroso profissionalismo e séria determinação. Que Castelo Branco venha a ser um forte valor acrescentado dessa rede internacional de Cidades Criativas que se consolida e cresce dia a dia é o meu voto sincero e a minha convicção firme. Muito obrigado Castelo Branco por tudo o que fazem e têm feito pela cultura e pela criação cultural”.
António Tavares