Edição nº 1791 - 3 de maio de 2023

Valter Lemos
AS QUESTÕES DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Os mais recentes desenvolvimentos da Inteligência Artificial (IA) têm levantado uma intensa discussão sobre os eventuais efeitos em vários aspetos da sociedade desde a educação e a ciência até ao jornalismo, a arte e a política.
Há os que encaram a questão somente como mais um desenvolvimento tecnológico inevitável que poderá vir a facilitar a vida e o trabalho e outros que, pelo contrário, consideram a IA o mais grave ataque à ciência e o maior instrumento de desinformação criado até hoje.
As consequências para a ciência, a investigação e o ensino superior parecem ser óbvias, o que já levou a academia a acender luzes vermelhas, havendo universidades já a tentar tomar medidas. Quem já experimentou colocar questões no ChatGPT percebe imediatamente os riscos para o trabalho académico. O potencial de realização de todo o tipo de trabalhos, desde um pequeno ensaio para uma qualquer disciplina até uma tese de mestrado é óbvio e coloca uma enorme dor de cabeça aos professores e às instituições escolares, a qual irá crescer rapidamente de forma aparentemente imparável. Até porque com as perguntas adequadas a plataforma apresentará em poucos instantes melhores resultados do que uma boa parte dos alunos (e até alguns professores) seriam capazes de produzir em largas horas de trabalho de pesquisa.
Significa isto que o que a IA nos pode dar não tem utilidade ou interesse? Obviamente que não. As aplicações da IA são de enorme utilidade, designadamente para trabalhar grandes quantidades de dados, mas é preciso perceber que os resultados obtidos são sempre semelhantes à informação que foi encontrada. É isso que leva muitos professores, cientistas e intelectuais a assinalar o perigo que constitui a sua utilização indiscriminada. Se os alunos não selecionam e analisam a informação como desenvolvem a capacidade de análise critica? Se os investigadores não avaliam com rigor a informação obtida e não fazem exercícios de análise, síntese e extrapolação, como desenvolvem capacidades de inovação e de criatividade?
Na verdade, as aplicações da IA são sempre de produção de simulação, mas não de explicação ou compreensão. E o seu potencial de simulação é incrível, dado conseguir mobilizar quantidades enormíssimas de dados.
E é precisamente isto que leva alguns a alertar para o grave perigo que pode constituir para a inteligência e a cultura humanas. Por se tratar somente de simulação. E nada estimula mais a desinformação do que a simulação.
Pode dizer-se que a desinformação já acontece com a Internet. O que é verdade. Mas o potencial da IA é muitíssimo maior. Não se pode impedir que a internet seja invadida por todo o tipo de lixo, mas o potencial de falsificação, desinformação e de difamação aumenta enormemente.
Para além disso, os impactos no mercado de trabalho e na economia podem ser bem mais profundos do que aconteceu até agora. É verdade que todas as transformações tecnológicas eliminaram empregos e mudaram a economia, mas, as potenciais consequências da IA no mercado de trabalho das engenharias, da arquitetura e do design, das próprias TIC e até da literatura e outras artes podem ser catastróficas. Alguns dirão que a perda de postos de trabalho sempre ocorreu, mas estamos perante uma nova situação. Anteriormente os postos de trabalho perdidos com as mudanças tecnológicas eram de baixa qualificação e os ganhos eram de maior qualificação. Mas do que falamos no caso da IA? Do eventual desaparecimento de postos de trabalho e até profissões altamente qualificados, o que é completamente novo.
Mas o maior risco da IA parece ser o de poder simular tantas verdades quantos os utilizadores. Cada um procura a sua verdade e a IA dá-lhe aquilo que gosta, em que se sente confortável, repetindo o que quer ouvir ou ver. Como diz Chomsky, “todos estão sozinhos, a perseguir as suas próprias fantasias. É o sistema ideal para controlar as pessoas”.

03/05/2023
 

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