Edição nº 1799 - 28 de junho de 2023

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

DURANTE VÁRIOS DIAS, os canais de notícias mantiveram em antena, quase em contínuo, o caso do desaparecimento do submersível que estava em viagem turística ao Titanic, em repouso eterno no fundo do oceano. O aparelho, o Titan, tinha cinco passageiros, incluindo o diretor da empresa que, ainda não há muito tempo, reconhecia os riscos que corria em cada viagem ao fundo do mar, mais de 3 mil metros de profundidade, num veículo preparado para mergulho seguro apenas a mil e 500 metros. Mas afirmou que sentia prazer no risco e, imagine-se, que quem não os quer correr, que não se levante da cama.
Não se sabe se todos conheciam os riscos, sabe-se que o jovem do grupo ia contrariado, pressionado pelo pai, empresário paquistanês, que considerava a sua companhia na aventura como uma prenda do dia do pai. Uma aventura que se pagou com 250 mil euros por pessoa e com a morte. Durante vários dias soubemos o nome e conhecemos a cara dos cinco tripulantes. Durante vários dias, em completa e contínua cobertura dos media mundiais, mobilizaram-se meios de todo o mundo, sucederam-se comentadores e especialista a apontar hipóteses para o final da aventura, em contagem decrescente para o fim do oxigénio na interior. O fim dramático, já o conhecemos. Não foi a falta de oxigénio, foi a incapacidade do Titan aguentar a pressão tremenda dos mais de três mil metros de profundidade, acabando por implodir…
Pelos mesmos dias, no Mediterrâneo, um pequeno barco com mais de setecentos refugiados, da guerra, da extrema pobreza, da vida sem futuro, afundava e apenas pouco mais de cem tripulantes foram salvos do naufrágio. Os traficantes que os transportavam tiveram ainda a malévola ideia de meter no porão as mulheres e crianças que, deste modo, foram as mais certas vítimas do naufrágio. Foram assim mais umas largas centenas de pobres a enterrar os sonhos no cemitério do Mediterrâneo. Como poucos dias depois, mais 40.
Foi notícia por um dia, segundo parece nos Estados Unidos nem sequer foi noticiado. Alguma pinga de emoção, os ativistas pelos direitos humanos e todos aqueles que lutam contra a desumanização da informação, constatam mais uma vez que as vidas não têm todas o mesmo valor. Num dos nossos canais de notícias, justificou-se a diferença de tratamento com a explicação de que o naufrágio no Mediterrâneo fazia já parte do normal. Por isso… já não dá audiências.

28/06/2023
 

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