João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
UM DIA DESTES CONVERSAVA com uma amiga que vive em Setúbal. Ela expressava-me a nostalgia pelos tempos em que na sua cidade se via cinema ao ar livre durante os meses de verão, prazer que agora já não lhe é proporcionado. Claro que não podia perder a oportunidade de puxar pelos galões de albicastrense e falar-lhe daquilo que acontece na nossa cidade nas noites cálidas de verão. Que inclui, evidentemente, o cinema ao ar livre que voltou a acontecer no Parque da Cidade, como acontecia nos meus tempos de jovem estudante, com a diferença de que agora é gratuito. E a juntar ao novo Parque Urbano do Montalvão, que vai tendo atrativos e atividades para o espaço de vivências que o integrem naturalmente no lazer dos albicastrenses.
A programação foi delineada de forma inteligente, com filmes blockbuster de ação e outros vocacionados para os mais jovens, sempre com títulos atuais, bem conhecidos, que vão tornar ainda mais agradáveis as noites albicastrenses.
As clássicas sessões de cinema ao ar livre, não são exclusivo de Castelo Branco, também acontecem por exemplo na Sertã, onde sei das boas gargalhadas que juntamente com o piano de Marco Figueiredo, acompanharam o Circo de Charles Chaplin. As noites albicastrenses, como em geral as noites do interior, são património climático (se é que existe este tipo de património). Uma pessoa que me é bastante próxima e que viveu durante vários anos na ilha da Madeira, dizia-me nessa altura que, de Castelo Branco, uma das saudades que tinha era essa mesmo, a das noites cálidas, que apelavam ao convívio e que enchiam de passeantes o antigo passeio verde. A tradição dos serões em conversa de vizinhos, passados à porta de casa, tão nosso, ainda agora se mantém em bairros populares da cidade (bairro Leonardo e do Castelo são exemplo) como ainda acontece na minha e em outras aldeias da região. Não da forma generalizada como acontecia nos anos da minha infância, mas mesmo assim ainda bom de ver nos higiénicos passeios noturnos. E é o prazer saudável do usufruto de uma das nossas singularidades que faz a diferença entre os bairros populares e os novos bairros urbanos onde cada fração do prédio é o casulo da família, a cair tantas vezes na comunicação de sentido único. Com poesia dita, com música, com cinema ou simplesmente com conversa de amigos, os nossos leitores que gozem das inigualáveis noites de verão, perfeitas para serão na província. De preferência com luar.