João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
ACONTECERAM POR ESTES DIAS ALGUNS DIAS COMEMORATIVOS. Passando por cima de que há dias mundiais para todos os gostos, há sempre alguns que servem, pelo menos, para alertar para assuntos que têm a ver com todos nós. Foi o Dia Mundial da Alimentação, o do Pão e, em jeito de remate, o Dia Internacional da Erradicação da Pobreza. Tudo na mesma semana, seguidos. E referenciados nos meios de comunicação social. Por isso, não podemos dizer que não fomos alertados para a importância destes temas, na saúde e na qualidade de vida de todos nós.
No que à alimentação diz respeito, em Portugal temos uma importante franja da população que cada vez mais se confronta com a dificuldade ou mesmo impossibilidade de manter para si e para a sua família um padrão de qualidade alimentar aceitável, uma alimentação saudável.
A inflação em valores como há muitos anos não se via, afetou em especial os que já viviam a dificuldade de chegar ao fim do mês com alguns euros na carteira, mesmo prescindindo de pequenos luxos, quase sempre de lazer e cultura. A estes, juntou-se uma parte significativa da classe média, que em Portugal se apresenta num quadro de valores que a aproxima da pobreza. Este ambiente inflacionista tem especial impacto nos produtos alimentares e teme-se que faça diminuir a qualidade da alimentação, com reflexos importantes na saúde. Produtos essenciais custam atualmente o dobro, o que leva os portugueses a fazer escolhas menos benéficas.
Alimento básicos, como a pescada, a laranja ou o arroz, custam atualmente o dobro do que custavam há um ano e meio. E, quase sem aviso, temos o azeite, essencial na dieta mediterrânica, a ser já vendido a preço quase proibitivo. Esperando-se este ano uma produção razoável de azeite, confiemos que volte para valores que o faça manter nas casas dos portugueses. Porque, por várias razões e, em especial pela saúde, ninguém vai desejar que o óleo, como aconteceu nos anos 60, volte a substituir o azeite na casa de muitos portugueses.
Resta a sopa, alimento barato, nutritivo e saudável, habitual na mesa de grande parte dos naturais das nossas aldeias beirãs, barato e autêntico património gastronómico. Mas lamentava-se esta semana Miguel Esteves Cardoso, na sua crónica semanal do Público, que a sopa está a entrar em desuso nas cidades. Pergunta ele se ainda estamos a tempo de devolver a sopa à nossa vida. Com boa educação alimentar e engenho para enfrentar o alto custo de vida com a arma dos produtos de época, teremos sopa para aquecer o estômago nos dias de inverno que se aproximam. Teremos sopa e pão, cujo dia se comemora também no dia 16 de outubro.
Será esse o dia do pão, mas o pão nosso de cada dia é a última coisa que pode faltar à nossa mesa, de pobre, rico ou remediado. Tão omnipresente na nossa vida que é dos poucos produtos que o Governo tem sempre debaixo de mira. Qualquer cêntimo de aumento é sempre notícia de abertura de telejornais. Na política de erradicação da pobreza, que (coincidência?) entra no espaço mediático no dia seguinte, 17, fazemos nossas as palavras cantadas de Sérgio Godinho: pão, habitação, saúde, educação. Só haverá liberdade (e pobreza erradicada) a sério quando tivermos tudo isto, com paz justa.