Edição nº 1826 - 10 de janeiro de 2024

NA PRÓXIMA SEXTA-FEIRA, EM PENAMACOR
Madeiro – Fólios de Poesia IV lançado na Escola de Música

O livro Madeiro – Fólios de Poesia IV, editado pela Câmara de Penamacor, é lançado na próxima sexta-feira, 12 de janeiro, às 18 horas, na Escola de Música de Penamacor. Esta nova edição, à semelhança das anteriores, pretende dar continuidade à divulgação e à consequente preservação da tradição do Madeiro, cristalizada nas diversas freguesias do Concelho de Penamacor, , com a introdução da poesia como arte afirmadora da riqueza cultural desta manifestação ritual.
O quarto volume da obra, organizado por Pedro Salvado e André Oliveirinha, conta com poemas de Afonso Carrega; Aires Diniz; Ana Melo; Ana P de Madureira; António Lourenço Marques; António Rico; António Sá Gué; Carlos Cruchinho; Carlos Fernando Bondoso; Fernando de Castro Branco; Francisco Pardal; Gabriela de Sousa; José Alfredo Pérez Alencar; José d’Encarnação; José Dias; José Dias Pires; José Fernando Delgado Mendonça; Leonora Rosado; Luís Aguiar; Maria de Lurdes Gouveia Barata; Marília Miranda Lopes; Mário Hélio; Pablo González Martin; Pantaleão; Silva Amaro; Sixto Sarmiento; Teresa Almeida Subtil; Tiago Alves; e Vicente Garrido. As imagens são de Ribeiro Farinha e Gabriel AV.
A apresentação estará a cargo de Pedro Salvado e Pedro Leitão.
Acerca deste quarto volume da obra, Pedro Salvado escreve que “O conjunto de vozes que compõem a quarta entrega de Madeiro - Fólios de Poesia continua a associar um amplo sentido metafórico e criativo a este peculiar projeto de descodificação e interpretação desta ancestral manifestação ritual. Renovam-se leituras, marcando com as palavras uma cartografia que percorre e revisita tempos e epidermes dos sentidos. Este mapeamento unifica territórios de interioridades individuais com aquela outra interioridade formada pelas micro geografias votivas das comunidades onde o cerimonial do Madeiro ainda é um centro de identidade que reafirma o calendário da vida em terras cada vez mais despojadas de gentes. Nos adros das igrejas das aldeias, de que se apresentam algumas captações imagéticas que acompanham os poemas, a presença do lenho que se transmuta pelo fogo assevera a linhas da renovação evocando o Madeiro como o grande fogo exterior do lar comum. Ativam-se todas as memórias e nostalgias acalentando a noite mágica que anuncia a diáfana e pretendida manhã de esperança. Ritmados por composições de origens distintas e, por vezes, ingénuas e contrastantes, introduzimo-nos nos significados de uma das manifestações espirituais mais ancestrais em muitas culturas e lugares onde a ritualização do fogo liga a tactilidade da labareda e da combustão aos horizontes do intangível. Estas festas sincréticas que juntam culturas e temporalidades religiosas entrelaçam-se com tradições e primordiais ligações entre as sociedades e os ritmos da vida que o cristianismo fundiu e, nalguns casos, fez esquecer e apagar de sentido. Cumprir o tempo do Madeiro constitui hoje, nestes territórios do Inteiro português, um significativo ato de resistência e de continuidade. Resistências rituais e identitárias que urge não deixar perder nem diluir em nefastos e descaracterizadores consumos eventistas como enfatiza Oliveira Batista quando “morre uma cultura, declina um mundo…”. A data e os gestos afirmam sempre um ciclo que se fecha e que se reinicia. Numa das próximas edições destas apreensões pretendemos evidenciar os contrastes e as continuidades entre os transmitidos paganismos e a nova religião dominante num inventário de fogueiras da luz que aproximará as linhas solsticiais e natalícias ibéricas e respetivas línguas do atlântico aos Pirenéus, do mar do norte ao quente mediterrâneo. Em complementaridade, também nos deteremos noutro tipo de fontes alusivas ao ciclo registadas na literatura de recorte etnográfico, numa reconstrução das linhagens votivas, visibilizando um património que nos possibilita apercebermo-nos das complementaridades, per vivencias, e compreender as diluições e apagamentos rituais. Que memória construiu o fogo salvífico que funda no espaço e no tempo as “raízes humanas” numa “luminosidade transparente”, para utilizarmos uma expressão de Mari Salvi quando um dia discorreu sobre as fantásticas pinturas de identidade do pintor beirão Ribeiro Farinha? Atentemos também, e como exemplo, a uma das primeiras “superstições” colhidas numa aldeia da Beira Baixa devida ao pai da arqueologia e etnografia regionais, Francisco Tavares Proença Júnior (1883-1916), que consistia “em retirar da fogueira tradicional que se faz à porta da igreja matriz na noite de Natal, pela uma hora da noite, um pedaço de madeira d’azinho que esteja a arder. Esse tição devera apagar-se por si para não perder a virtude. Guarda-se religiosamente em casa e em ocasião solene de trovoada iminente, chegaram do lume da lareira o pobre tição da noite do Natal, o qual por estar seco e parcialmente carbonizado pega logo a arder. Assim se conserva durante a trovoada e, finda esta retira-se novamente do lume, deixa-se apagar por si debaixo de cinza, e guarda-se para outra vez.” Estes fólios são uma enciclopédia de afetos, enciclopédia, palavra de origem grega, que significa “ligado por círculos”. O Madeiro é um círculo ritual que transforma os círculos das idades do crescimento do lenho, superfícies dendrocronológicos que o fogo vai transformar numa abóbada que se liga ao céu nessa noite de luz. Dizia Novalis que a “A luz é símbolo e agente de pureza. Onde a luz não tem nada a fazer, nada a unir ou nada a separar, passa.” a luz do Madeiro permanece nas terras e, principalmente, no coração”.

10/01/2024
 

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