Edição nº 1841 - 24 de abril de 2024

João Carlos Antunes
O 25 de abril por quem o sonhou, viveu e contou

Era estudante universitário em Lisboa quando os capitães de abril nos deram aquela madrugada que Sophia de Mello Breyner imortalizou em poema
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Como parte significativa dos estudantes universitários, era politizado, numa cultura caldeada nas Associações Académicas e em atividades semiclandestinas da oposição. E todos sabíamos que alguma coisa estaria para acontecer. É espantosa a forma como regime, depois do golpe frustrado das Caldas, foi surpreendido pelo movimento revolucionário. Porque, conforme nós ironizávamos, dávamos um pontapé numa pedra e saía de lá um jornalista estrangeiro. Em Lisboa, dias antes eram bem visíveis os jornalistas, rádios e televisões estrangeiros, como se houvesse hora e data marcada para o Acontecimento. Lembro-me bem de na noite de 24 para 25 ter assistido no Instituto Alemão, ao Campo de Santana, a um concerto de jazz, sentado ao lado de Zeca Afonso. Pergunto-me se ele teria alguma informação do que iria acontecer daí a um par de horas.
Depois dos primeiros comunicados e já na certeza do sentido da revolução, as escolhas musicais (José Afonso, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira, Luís Cília, Sérgio Godinho...) não deixavam dúvidas, saí de casa e desembarquei na Estação do Rossio. Sob a batuta do capitão Salgueiro Maia, a ação acontecia no Largo do Carmo, ali a dois passos. A espera até à rendição foi demorada e com momentos de tensão, mas a sensação de que estávamos a viver um momento único da nossa História não nos deixava impacientes. Vivia-se o frenesim e o entusiasmo coletivo. Depois a ação muda para a rua Garrett, junto ao largo do Chiado e a dois passos da odiada rua António Maria Cardoso, onde os pides teimavam em resistir e onde se verteu o único sangue da revolução.
Esta foto da Alfredo Cunha, a par de Eduardo Gageiro e Carlos Gil, um dos grandes fotojornalistas que fixaram os momentos fundamentais do Dia para os jornais que saíam em sucessivas edições das rotativas no Bairro Alto, é uma das minhas preferidas. Porque é na esquina do Paris em Lisboa, uma loja centenária tão bonita por fora como por dentro, uma das últimas lojas com história do Chiado. Porque eu estava no outro passeio, junto à antiga ourivesaria Aliança. Os putos a conversar com os soldados, em posição de combate, são um excelente retrato do espírito popular, libertário e naïf do 25 de Abril. E as senhoras a conversar calmamente à porta da loja (quem sabe se clientes), com os tapais corridos, eram a garantia da irreversibilidade da vitória do Movimento.

24/04/2024
 

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