Edição nº 1841 - 24 de abril de 2024

Elsa Ligeiro
LIBERDADE, QUERIDA LIBERDADE

“Grândola, Vila Morena”, uma das senhas que ajudou a concretizar o golpe militar que pôs termo a um regime fascista, herdeiro de outro golpe, o de 28 maio de 1926; é uma canção que evoca a Liberdade.
Cinquenta anos após o 25 de Abril de 1974, “Grândola, Vila Morena” continua a ser a grande bandeira da Revolução dos Cravos; o que diz muito da sua mensagem; e da voz que dá corpo à sua popularidade: José Afonso.
Para quem se tornou jovem com essa canção no pensamento; mas também com a “Queixa das Almas Jovens Censuradas”, poema de Natália Correia e música e voz de José Mário Branco; e acompanhou em coro o “Porque”, de Sophia e Francisco Fanhais; sente grande alegria ao concluir que, 50 anos após esse abril de 1974, são, hoje, as mulheres a dar voz à Liberdade.
Capicua, Aldina Duarte ou Cátia Mazari Oliveira são apenas três dos exemplos que ainda cantam a “nossa” revolução e denunciam uma democracia ainda imperfeita.
“A Garota Não”, criação de Cátia Mazari e Sérgio Mendes, tem vindo a impor-se devagarinho; com a segurança que todos os projetos genuínos trazem consigo.
Uma renovação com grande adesão do público porque trazem com eles a poesia da Liberdade.
Onde muitos reconhecem os hinos e as amarguras de uma juventude inquieta, bem-educada, mas não domesticada. Com consciência dos seus direitos à Liberdade: pessoal e comunitária.
Ainda recordo o meu espanto quando, em Setúbal, numa noite de poesia na Associação de Cinema 50Cuts, escutei pela primeira vez a voz (à capela) de Cátia Mazari Oliveira.
Um sentimento bem alto se levantou dos versos de Florbela Espanca na voz da jovem setubalense.
Um canto fundo que já está em Homero, nos mantras, e em tudo o que respira humanidade.
Perante o que nos eleva enquanto seres humanos, comovemo-nos e guardamo-lo na memória para sempre. Foi isso que me aconteceu.
Uns anos depois “A Garota Não” (nome tão ao acaso como é o da criação popular), ali estava Cátia Mazari Oliveira, na minha vila de Alcains (fevereiro de 2023) a cantar o “Urgentemente”, palavras de Eugénio de Andrade, no ano do seu centenário; provando-me uma vez mais que o impossível não existe no dicionário dos que acreditam e trabalham.
Quando a Alma Azul decidiu encerrar o Prémio Ciranda; após o ter entregue à mais talentosa criadora portuguesa, nascida um mês antes do 25 de Abril de 1974 (16 de março), Patrícia Portela, pelo seu livro “Hífen“; uma criação literária que um dia será um clássico; e já preparando novos modelos (conceitos, dizem os economistas do mercado) de trabalho com as Bibliotecas Públicas; decidiu, para concluir o projeto, premiar quem escreve canções; quem organiza pensamento social capaz de levantar a moral e a dignidade de um povo.
E entregou ao álbum “2 de abril” de “A Garota Não”, que acaba de ser distinguido com o Prémio José Afonso, o Prémio Ciranda 2023.
No dia 5 de outubro de 2023, quem esteve na entrega do último Prémio Ciranda, na Biblioteca da Fundação Manuel Cargaleiro, a Cátia Mazari Oliveira; que se fez acompanhar pelo pai e o seu companheiro; sabe que viveu um momento histórico da cidade de Castelo Branco; e confirmou que as suas palavras e as suas canções eram as de uma pessoa inteira. Transparente como a poesia e a água que corre da Serra da Gardunha. Inteira como a madrugada de que nos fala Sophia.
E se tiver que agradecer à Cátia Mazari Oliveira um só trabalho inspirado e solidário; escolho o seu canto à Liberdade que ela dedica a José Mário Branco:

Liberdade, querida Liberdade
O nosso chão tem sonhos e vontade.

Derramar na canção
O que dói no país
Ser a Revolução
Ser a boca que diz…

Palavras que povoam o nosso imaginário comum como um hino; oferecendo-nos alento para fazer e refazer o tão esperado Portugal Futuro.

24/04/2024
 

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