Edição nº 1848 - 12 de junho de 2024

José Dias Pires
FACEBOOK: A ASNOCRACIA, PÁTRIA DA (IR)RESPONSABILIDADE SOCIAL E COMUNITÁRIA

Inadvertidamente, ou talvez não, o facebook está, cada vez mais, transformado no território dos cronistas das ignorâncias que aparentemente vivem repartidas entre boas vontades e melhores intenções, sendo, na verdade, pousio de movimentos sombrios dos que apenas veem nos outros instrumentos descartáveis dos seus intentos.
Repetem-se, nesta espúria pátria da (ir)responsabilidade social e comunitária histórias de aventuras e desventuras onde se vislumbra tudo o que pode beneficiar um território destinado a ser do tamanho do mundo, mas que, afinal, está confinado a ser uma carroça coletiva da (ir)responsabilidade
Há, no meio de tantos (ir)responsáveis, quem utilize a estapafúrdia desculpa do destino como elemento primordial do “estado a que isto chegou” para tentar convencer os incautos de que, à nossa volta, não há passado, nem presente, nem futuro — apenas um muro: o da indiferença.
Depois, apresentam-se como comentadores atentos, cultos, lidos, frequentadores de arquivos, museus, bibliotecas, galerias.
Assim percebemos que passaram pelos arquivos do Museu do Desinteresse, pelo espólio do Museu da Teimosia, pelas receitas do Museu das Mezinhas, pelos textos da Casa do Esquecimento das Memórias (Ir)responsáveis que lhes permitiram ter o lastro adjuvante da redação de ofícios (para si sempre maravilhas), sobre caminhos e fronteiras, mas nunca sobre os limites das asneiras.
Há ainda, muitos, que passaram pelo Museu da História Mal Contada que os ajuda depois de bem sentados, refastelados, encostados e descansados atrás de um teclado de computador (muitas vezes nas horas de serviço) a fazer as mais tranquilas (e absolutamente indispensáveis, julgam) revoluções pessoais e coletivas, locais e nacionais, mas, atenção sem nunca darem um passo comunitário para efetivarem o seu postulado.
Na verdade, trabalhar dá muito trabalho e fazê-lo sem ser em proveito próprio, ainda mais. Cidadania efetiva, de corpo inteiro? Cruzes, credo! Basta a que sai, pela ponta dos dedos, por conta dos boatos, das atoardas, das mentiras (repetidas, para produzir efeito), na convicção de que através delas se tomem as mais definitivas decisões talvez, porventura, quiçá gerando para cada um dos que militam neste território da Asnocracia talvez o ministério, porventura a secretaria de estado ou quiçá, à falta de melhor a direção-geral dos “likes” tranquilamente sediadas nos arquivos mortos do Museu do Desinteresse onde são sempre bem vindos aqueles que passam a vida a construir trincheiras com as nossas pedras da sopa, tentando, com isso, arranjar a melhor maneira de bem encher a boca, de recuperar a carteira, de reinstalar o verniz e reconverter a melhor forma de bem meter o nariz. Tentarão, em cada prato de sopa colocar uma mosca. Importa ajudar a topar a razão dessa marosca: arranjar outra pedra, levá-la no bolso quando visitarmos a Sala Restrita da Biblioteca do Museu do Disfarce onde descobriremos os pingentes malandros que vivem, num ano inteiro de Carnaval, mascarados de menos vis, de mais maduros ou pueris, e que celebram diariamente o Dia de Enganar os Enganados, o Dia Nacional do Escafandro dos que mergulham, a rir, no mar dos desgraçados.
Inadvertidamente, ou talvez não, o facebook está, cada vez mais, transformado no território dos cronistas das ignorâncias que, com o melhor disfarce de bonomia fazem de cada texto a Voz de Tudo Mudar para Ficar na Mesma no Dia Nacional dos Resignados. Alguns andam travestidos de alquimistas, outros, mesmo sem crer no fado, disfarçados de fadistas.
Estas minhas palavras são uma metáfora, sim. São, também, um aviso à navegação de que, por convicção, ainda há muitos que não alinhamos nestes carnavais.
Sim, são uma metáfora, e um alerta: as ignorâncias repartidas nesta espúria pátria da (ir)responsabilidade social e comunitária, dos que nada fazem mas muito opinam, geram ignorantes despreocupados cuja meta mais desejada é conjugar o verbo ter: ter, apenas ter.
Será que ainda lhes dói a conjugação do verbo dar, do verbo ser?
Nunca lhes doeu.

12/06/2024
 

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