Edição nº 1848 - 12 de junho de 2024

Antonieta Garcia
HÁ FALAS E FALAS...

Acordo cedo. Saúdo o bater das asas que voam a cumprimentar com o coração, outro dia solarengo. Que saudades... Afinadinhos, cantam de todas as maneiras e estilos. Os vadios puro-sangue não dispensam uma desgarrada; outros, mais novos, de aurora vestidos, irreverentes e namoradeiros apropriam-se do radioso lar-doce-lar... em ninhos que aquecem e profetizam concertos de jovens apaixonados. Aos corvos e similares, que fazem pactos com o diabo, apago-os.
Com o sol a pique, na opereta de encantos de mil cores, escolhem largos perto das escolas, na serra mãe... Despertam, alegres, felizes... A procissão ainda vai no adro.
Ao meio-dia, as palavras têm o sabor de vozes novas, lá longe, a esquecer o bem da saudade dos caminhos verdes... Rebeldes, perdem-se as vidas cansadas das flores a cair de calor. O vento quente, seco, enrola ideias magníficas e, nas folhas amareladas, abandona-se à magia das partituras da música fresca. O calor é alegria? Sei lá!
Estou atordoada pelo desejo de fadistar a dimensão maior de cantar. As memórias soltam-se, desde manhã à noitinha; os sons musicais, as partituras aprendidas com “professores” de ontem e de hoje. Amar a música é ser feliz!
À aula dos dias de sol nem falta a cigarra, incansável, em busca de vidas com novas linguagens. Mais longe prende-nos também o coaxar das rãs em extensos diálogos sobre o cântico da vida. Uma sinfonia afaga-nos e há carícias que contam episódios memoráveis.
- Olha a música cigana, à beira da eira! Há moças vestidas de serranas. Que alegria! E as mãos em aplausos são moinhos, pão e os amigos, a fraternidade!
Os sonhos transformados em festas de noite de luar embebedam de cantigas de amor, o largo velhinho.
A mãe terra oferece este pastoreio da liberdade. Ouço-lhes as vozes de solidariedade, de bondade e fraternidade...
Os sonhos transformados em festas de luar, embebedam de cantigas de amor, o largo velhinho, carinhoso.
Sei igualmente a solidão de verdade, triste e velha. Olha, entre a folhagem das árvores, as discussões e os lamirés, sons diversos de paz e sol, de sombra e sossego.
Empertigados e bailarinos ritmam com as mãos o gosto de ser gente, dançam e nascem outros retratos da Terra mãe.
É aqui que nasce o Sol que alumia a Serra da Gardunha e aquece a gente de ternura.
O vento dorme? E que outras coreografias mais perfeitas do que as do vento com asas?
A música do guardião da Gardunha traz o aroma perfumado, apaga tristezas e desconsolos. A bailia do amor traz a vida nas mãos abertas.
Os olhos das aves que acasalam na Primavera, enamorados, amaciam pedras e montes.

É de noite; os Anjos vieram há pouco; lá longe a Lua ilumina... e as noites ficam mais longas. A alvorada é bonita...
Todas as histórias contam episódios, pedacinhos de vida para ensinar a conviver. Conversamos muito e espero sempre a minha vez de falar. Ou seja, como diz a minha mãe: quando um fala, o outro cala-se!
(Sei uma ainda pior... Explico:)
- Quando um burro fala, o outro baixa as orelhas!
Agora, tudo mudou! Quando os senhores comentadores e assim agarram o microfone da TV, não há quem nos valha! Dizem coisas ao mesmo tempo, falam, falam, falam... para ninguém perceber? Quem é que baixa as orelhas?

12/06/2024
 

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