Edição nº 1850 - 26 de junho de 2024

Elsa Ligeiro
NO INÍCIO ERA UMA IDEIA

No início era uma ideia, diz o vídeo que lança a edição da Maratona de Leitura na Sertã 2024 que o Município e a sua Biblioteca promovem nos próximos dias 4, 5 e 6 de julho; revelando que detrás de um grande projeto está sempre uma frágil ideia que um dia arriscaram realizar.
É um dos segredos do sucesso e do crescimento da Maratona de Leitura na Sertã que, anualmente, convoca não só autores, mas leitores de todo o país, num encontro entre quem lê e quem escreve, numa só comunidade sem fronteiras.
Acresce que este verdadeiro oásis cultural do Interior é realizado pela pequena equipa de trabalhadora/o/s da Biblioteca que dá tudo o que tem para que a Maratona de Leitura se realize todos os anos, no início de julho.
Uma superação que vejo em poucas bibliotecas deste país, que, gradualmente, vão perdendo o fulgor do seu trabalho cultural imprescindível; trabalho cultural que esteve na génese da criação da rede nacional de bibliotecas.
Muitas das Bibliotecas já cederam ao funcionalismo da gestão corrente; com programas de animação cultural repetitivos e aprendidos em cursos de formação para funcionários que já entram cansados numa Biblioteca.
Pessoas (não lhe posso chamar bibliotecários) cuja aspiração é apenas um emprego das 10 às 18 horas, com fins de semana livres como qualquer outro zeloso funcionário municipal.
A Biblioteca Municipal de Castelo Branco é um dos casos mais emblemáticos do que não deve ser uma Biblioteca no século vinte e um; ficando-se apenas pelas prosaicas tarefas de atendimento e Leituras para bébés (!) ou para crianças do Jardim de Infância; ignorando o potencial de dinamização cultural de excelência que pode e deve ser o de uma Biblioteca na comunidade: um motor na divulgação da arte literária, em todas as suas valências; apoiando e apoiando-se em outras artes da qual é a matriz, como o teatro ou o cinema, por exemplo.
A Maratona de Leitura na Sertã não é só um dos mais conseguidos festivais literários do país, valoriza em paralelo o seu território de modo exemplar: destacando a paisagem verde e única de árvores seculares; a água das suas ribeiras e do rio Zêzere; e alarga as atividades às freguesias e aldeias onde os “dias crescem como as plantas”; ou seja, devagar, num apelo à Leitura e à conversa.
Tudo acompanhado por uma gastronomia única e um acolhimento humano que ultrapassa a vulgar simpatia que exigimos ao turismo.
A Maratona vai na 12.º edição, mantendo a qualidade e, de ano para ano, acrescentando valor ao que se propôs em 2012: reunir Leitores e partilhar a paixão comum pela Leitura, por Livros e Autores.
Na minha opinião, já merece do Ensino Superior um mestrado ou um doutoramento sobre o valor de uma Biblioteca como imagem forte de um concelho e de toda a região do Interior, aliando os seus recursos à Leitura para a criação de um verdadeiro diálogo entre Culturas Contemporâneas e Ancestrais.
E é disso que se trata: acolher quem traz algo para contar e ensinar e em troca oferecer o melhor da sua cultura e hospitalidade.
O concelho da Sertã tem um património cultural extraordinário e nomes que mudaram a história de Portugal.
Desde logo, Nuno Álvares Pereira, o grande estratega militar; depois monge e mestre da solidariedade; e, para sempre, um herói português imortal.
Mas também esse nome mais contemporâneo e incontornável dos estudos clássicos portugueses; com uma erudição que nasce dessa inteligência curiosa só ao alcance dos que tiveram de subir degrau a degrau as escadas da sabedoria e depois aprenderam a partilhá-la.
Dizem-nos os relatos de alguns dos seus alunos que nas aulas do Padre Manuel Antunes, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, não cabia um alfinete; tal a fama das suas lições onde participavam alunos que nem sequer pertenciam às cadeiras que o Padre Manuel Antunes lecionava.
Haverá melhor elogio a um professor?
Que o Padre Manuel Antunes seja o patrono de uma Biblioteca que criou a Maratona de Leitura na Sertã é mais um elogio ao concelho, e uma homenagem à sabedoria que os livros transportam há milhares de anos e nos a oferecem através da Leitura.
Sabedoria que as Bibliotecas devem preservar e dar a Ler.

26/06/2024
 

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