A primeira volta das recentes eleições francesas resultou numa vitória da extrema-direita, ainda que relativa. A 2ª volta mostrará a dimensão definitiva dessa vitória, mas parece bem claro que não será absoluta. A frente de esquerda e extrema-esquerda conseguiu um resultado não muito inferior à extrema-direita e o centro do presidente Macron parece ter sido o maior derrotado, ainda que tivesse resistido, um pouco melhor do que se vaticinava, à catástrofe anunciada.
Em qualquer circunstância era difícil prever um resultado das eleições pior do que aconteceu. Quer para os franceses, quer para a Europa.
Não há uma maioria de governo, o presidente perdeu influência, as forças antieuropeias de direita e de esquerda saíram reforçadas e o quadro político é péssimo para as condições de governação.
A provável formação de um governo da extrema-direita resultará numa instabilidade permanente e numa luta constante com o presidente. Mas isso é só uma parte do problema. O programa eleitoral da extrema-direita é, como se vê, “um bodo aos pobres”. Dar tudo a toda a gente (exceto, claro, os emigrantes, os franceses “de segunda” - dupla nacionalidade- e sabe-se lá quem mais). Ora a França está com um défice superior a 5% e uma dívida superior a 110% do PIB. Muito acima dos valores limite fixados na União Europeia. O programa da extrema-direita aponta para um crescimento da despesa de mais de cem mil milhões (e o da frente de esquerda e extrema-esquerda é igualmente despesista). Já sabemos onde este caminho vai dar…
Num país onde a esperança de vida aos 65 anos é a maior da UE (21,4 anos) quer fazer-se recuar novamente a idade da reforma para os 60 anos… Os franceses querem ouvir isso e votam nisso, mas tal política, a ter lugar, irá fazer piorar muito as suas condições de vida, ao contrário da expetativa que lhes é vendida politicamente (à direita e à esquerda, diga-se…)
Se a extrema-direita fosse governar com uma maioria teria de se confrontar com tudo isso e com o sem número de dificuldades económicas e financeiras que tal programa acarreta. Mas, nas atuais condições vai governar em campanha e com o único objetivo de mostrar que quer fazer, mas o presidente é que obstaculiza.
Do ponto de vista externo só são de esperar más notícias para a Europa. Um partido nacionalista antieuropeu a governar num país central na UE é um grave entrave ao processo europeu. Se Orban já é o que é, com a França é muito pior. Também aqui a extrema-direita vai tentar culpar o presidente do previsível desastre. A extrema-direita egoísta e mentirosa (e também alguma extrema-esquerda) tem vindo a convencer muitos europeus que é possível ter todos os benefícios da Europa e não participar e contribuir. Ora é verdade que é possível enganar os outros durante algum tempo, mas o povo acaba por pagar essas mentiras com língua de palmo… Porque é sempre o povo que paga… ainda que esses partidos lhes digam que não. E muitos acreditam!
A chegada da extrema-direita ao poder em França pode ser verdadeiramente uma tragédia para o projeto europeu. Ela é antiliberal, é antieuropeia, anti Nato, trumpista e putinista. Pior para a Europa é difícil imaginar.
Alguns dirão que o exercício do poder lhe vai amenizar algumas dessas características. É possível que assim venha a acontecer, mas os estragos que vai deixar, ainda por cima nas atuais condições políticas de França, da Europa e do mundo, terão consequências pesadas na vida dos franceses e dos europeus.
É bem triste ver a pátria da liberdade, igualdade e fraternidade, rendida à demagogia e ao obscurantismo, mas parece ser a vontade de muitos franceses. A França a fugir das suas origens é um espetáculo pouco agradável…

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