Edição nº 1873 - 11 de dezembro de 2024

Antonieta Garcia
AS MEJENGRAS VOAM

Lá fora, as mejengras não param; saltam de uma árvore para outra, fazem amigos, o repertório a enriquecer as narrativas dos mais novos. Fresquíssima, a fruta de luxo oferece-se a todos, colorida, saborosa; pardais, canários, pintassilgos... de gargantas afinadíssimas tornam-se o som das almas das árvores. Mejengras de beleza tamanha e de aves livres junto ao peito, tudo vêm com os olhos luminosos em demanda de velhos pescadores de afetos.
As mais pequenas, no colo da mãe, balançam, que o colo é berço. Amanhã será navio a baloiçar na costa verde da serra.
Em novembro, baila o frio com as labaredas; a luz da lareira incendia espanholitos que cantam a Cantiga Partindo-se, igualzinha à do poeta que em melodia declarava: Senhora, partem tão tristes, meus olhos, por Vós, meu bem...
Os aromas de lenha embriagaram, as fogueiras entraram pelas janelas, o gato enrosca-se na manta ... Quem quer ir para a caminha?
- Não têm juízo nenhum!
O Ronrom fica até às dez e não mais. Sempre. Ortodoxo, este bichano, vira-se para o outro lado, a sopa está quentinha... sopra a fantasia e manda-a para o diabo que a carregue.
Em casa, em dezembro, mia suave, o tareco. Cala os sonhos e perde um belo tempo a dormitar, quentinho.
- Embora agora se fale muito no 25 de Abril, já inaugurei, na minha rua, a Praça da Canção. Aqui, pela Serra da Gardunha, há bailarinas e cantores com palavras companheiras, hinos de esperança a ensaiar memórias de futuro.
Em demanda da bênção de divindades afagamos anseios de Serra com anseios franciscanos. Embrulhamo-nos sempre de amor contra a guerra.
À beira da lareira abraçamos paraísos que ainda não descobrimos.
Desensarilhámos melancolias, aliviaram-se pesares, porque é dezembro e há rouxinóis e melros a semear a vida.
Quando me perco pelas palavras e já não sei, bailo e canto na Praça da Canção. Muitos amigos andam por ali.
Fica-nos bem o Natal! Cantamos com Manuel Alegre, Zeca Afonso, Adriano, Fanhais, Manuel Freire... Concluímos que o prazer da educação responde com alegria e liberdade. No caminho livre, descobríamos corredores de liberdade. Encontrávamos um país de maravilhas, um sonho que construíamos e partilhávamos porque ninguém pode tirar-nos o que guardamos.
As mejengras? As mejengras sabem tudo. Cantam, bailam, louvam a vida da Serra.
Entre a folhagem de árvores ouve-se uma algazarra de aves sábias... que o poeta ilumina.

11/12/2024
 

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