João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
ENQUANTO O NOVO EXCÊNTRICO criado pelo jogo da Santa Casa da Misericórdia vai com a família para Bora Bora, algumas das empresas que mais investem em publicidade captam a atenção dos atuais e futuros clientes com anúncios, quase curtas metragens, que contam histórias que abordam problemas atuais da nossa sociedade. Uma grande empresa do negócio da distribuição aponta à solidão do idoso, que a sensibilidade da funcionária ameniza, com um convite discreto para a consoada com a sua família, e junta de forma inteligente o combate à solidão e o combate ao racismo. A empresa de comunicações líder do mercado utiliza a publicidade para sensibilizar para o processo de inclusão e aceitação de culturas diferentes, assunto tão atual numa época em que tanto se discute a imigração. O percurso de um pai que passa pela reação negativa e mesmo repressiva, à amizade da filha com uma menina da sua escola, presumivelmente muçulmana e como evolui para a aceitação da diferença. Finalmente, uma outra operadora de comunicações, que tem o core do seu negócio nos telemóveis, internet e serviço de televisão, tem um excelente filme publicitário sobre um adolescente, que fica sem telemóvel na visita natalícia aos avós, na aldeia, e a descoberta de que a vida fora dos ecrãs pode ter momentos muito melhores, como o convívio e a descoberta do amor. O filme divulga uma informação estatística que reflete um sério problema: 41 por cento dos jovens gastam cerca de seis horas diárias ao telemóvel.
Na Escola ou na Família há que tomar medidas e definir estratégias para, sem repressão, orientar os jovens numa utilização equilibrada dos meios digitais. Não sendo fácil, não há de ser impossível. Na Escola terá de passar pela utilização controlada, ou mesmo proibição entre os mais jovens, do telemóvel e pelo regresso ao papel. Imaginam um aluno passar 90 minutos sentados numa aula e no intervalo sair para o pátio de cabeça curvada a dedilhar furiosamente no telemóvel mensagens nas redes sociais, esquecido do que é brincar ou conversar?
Os pais pensarão que os seus filhos não poderão estar mais seguros que dentro de casa. Depois de jantar vão para a intimidade do quarto com o seu telemóvel ou computador, e é no final do dia que os predadores sexuais, que conhecem os ritmos de vida e hábitos dos jovens, costumam atacar. Eles sabem que é a altura em que a presa está mais à sua mercê. Com perfis falsos, fazendo-se passar por adolescentes, aliciam para exibição sexual em imagens que partilham depois na chamada dark web, paraíso de pedófilos, e que usam para chantagear, exigir sempre mais e quantas vezes terminam de forma dramática e traumática em contactos reais. Em quatro anos já houve 437 condenações por pornografia infantil, passando em 2019 de 40 crianças vítimas de criminalidade sexual online para 356 e 303 nos dois últimos anos. As medidas de segurança a tomar terão de passar sempre pela atuação atenta dos pais.
Ainda muito recentemente a RTP2 transmitiu uma mini série italiana, Não Me Deixes, que aborda este tema. Recomendo e pode ser visto na RTP Play.
A fechar, desejo a todos os nossos leitores e anunciantes um feliz e santo Natal, sempre que possível em família, próxima ou alargada.