João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
PROMETI A MIM MESMO que ocuparia cada vez menos espaço na segunda página da Gazeta do Interior com Trump. Já tanto tinha sido dito, para quê cansar os leitores com as diatribes trumpistas no reino do ridículo e do disparate? É promessa difícil de cumprir, quando à frente dos nossos olhos vemos todos os dias espezinhados os valores democráticos nos EUA com danos colaterais na Europa e noutras partes do Mundo.
Na passada sexta-feira, assistiu-se a um episódio que deixou meio mundo assarapantado. Trump e J.D.Vance, o seu cão de fila como titulava um jornal, receberam e humilharam em direto o presidente Zelensky. No final, lembrando talvez os seus tempos de apresentador de concursos, ele considerou que o episódio terá dado um excelente show de televisão. Tudo fizeram, com provocações, para desestabilizar o presidente de um País em guerra há três anos. Desde logo, com a ajuda de um dos jornalistas ou criadores de conteúdos digitais (podcasts), selecionados com grande sentido democrático para estarem presentes na Casa Branca e que agora substituem alguns dos grandes medias de referência, incluindo a Associated Press (AP). A agência de notícias, fundada em 1846, foi proscrita da Casa Branca porque continua a identificar o recém batizado Golfo da América, pelo seu nome original. Antes de começar a conferência, o tal jornalista questionou Zelensky sobre a forma desrespeitosa como se apresenta, sem fato, perante o mais importante líder político do Mundo. E depois seguiu-se um chorrilho de provocações e mentiras com Zelensky, acusado de ter provocado a guerra, ser responsável por milhões de mortes e e por estar a apostar na III Guerra Mundial. Zelensky saiu humilhado mas de cabeça erguida, com a quase certeza de que com esta América, a Ucrânia (e já agora, a Europa) não pode contar.
Este é apenas mais um episódio da saga de uma liderança que até agora tem apenas enfrentado uma tímida oposição de um Partido Democrático, ainda a lamber as feridas da derrota eleitoral e uma imprensa em processo de domesticação. Durante este pouco mais que um mês tem sido uma avalanche de ordens executivas, assinadas em direto em formato de show televisivo. De todos os géneros e espécies, seguindo a estratégia de Steve Bannon, ideólogo da extrema direita e seu conselheiro. Dizia ele em entrevista, que a ação política de Trump tem de ser impetuosa e manter um ritmo elevado, “porque o partido da oposição é a imprensa. E a imprensa só consegue, porque são burros e preguiçosos, focar-se numa coisa de cada vez. Cada dia a atacar com três coisas. Eles mordem uma e nós tratamos de tudo. Pum, pum pum”. Ficámos esclarecidos. O pior vai ser quando estas ordens executivas, se não ficarem esquecidas, começarem a mexer da pior maneira na vida dos americanos, incluindo os que lhe deram a vitória. Excluindo evidentemente os fanáticos MAGA, os tais que, faça o que fizer, o veem como o redentor descido à Terra.